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segunda-feira, agosto 03, 2009

o perigo de nos tornarmos ilhéus


"...A ilha, a ilha dele, embrenhava-se na escuridão, afastando-se dos humanos. Sentia-se
mesmo, nas cavidades sombrias e molhadas, o espírito cheio de ressentimento,
ensimesmado, como um cão molhado enroscado na sua depressão, ou uma cobra que não está desperta nem a dormir. Então, à noite, quando o vento largava a soprar em rajadas e rabanadas, como no mar, sentia-se que a ilha era um universo, tão velho e infinito como a escuridão; não era, de todo, uma ilha, mas um mundo escuro infinito em que viviam as almas todas de todas as noites passadas e a distância infinita era próxima. Desta pequena ilha no espaço passava-se, estranhamente, aos grandes domínios obscuros do tempo, onde as almas que nunca morrem passam e repassam em missões vastas e estranhas. A pequena ilha terrestre diminui, como um trampolim, e reduz-se a nada, porque dela se saltou, sem se saber como, para o amplo mistério escuro do tempo, onde o passado é vivo e vasto e o futuro não está isolado.
É este o perigo de nos tornarmos ilhéus. Na cidade, quando se vai de polainas brancas e se evita o trânsito, com o medo da morte metido na espinha, está-se protegido dos horrores do tempo infinito.
O momento é a ilhota no tempo de cada um , é o universo espacial que passa vertiginosamente à nossa volta.
Mas quando nos isolamos numa ilha pequena no mar do espaço e o momento começa a inchar e a expandir-se em grandes círculos, vai-se a terra sólida e a nossa alma escura, nua, escorregadia, acha-se num mundo intemporal, onde os carros da chamada morte se precipitam pelas velhas ruas de séculos e as almas se apinham nos caminhos a que nós, no momento, chamamos anos passados. As almas dos mortos estão vivas, de novo, e pulsam activamente em redor de nós. Estamos perdidos no outro infinito."

D.H.Lawrence " O homem que amava as ilhas"

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