O Jardim Cardoso é o que mais preocupa o geógrafo e ambientalista
Raimundo Quintal diz-se preocupado com alguns jardins da Madeira, especialmente com o Jardim Cardoso, infestado por "ervas-malcriadas , arbustos-bilhardeiros e árvores-das-bruxas". A referência irónica a um dos sobrenomes do presidente do Governo tem uma razão de ser: as críticas de Alberto João Jardim à entrevista que o Professor e Geógrafo deu ao DIÁRIO, na qual acusava o poder regional de já não ter criatividade e apontava vários erros cometidos no combate aos incêndios e na reconstrução do 20 de Fevereiro (ver destaque).
Em declarações ao JM, o presidente do Governo diz que "o senhor Raimundo Quintal é uma figura desacreditada porque pretende saber de tudo desde engenharia, ribeiras, hidráulica, plantinhas e protecção civil", acrescentando tratar-se "de uma pessoa instável, que andou na extrema-esquerda, depois veio para a esquerda e depois aceitou um lugar de vereador pelo PSD", ressalvando que este último lugar foi ocupado sem o seu voto na Comissão Política.
Porque as declarações de Jardim foram feitas ao JM, Raimundo Quintal endereçou, ontem, uma carta ao director daquele matutino gratuito, "na esperança de que o que o Jornal da Madeira, pago com o dinheiro dos contribuintes", faça eco da sua preocupação sobre o estado de três Jardins da Madeira.
Diz-se preocupado com o Jardim do Campo da Barca, que ficou bastante destruído com a cheia da Ribeira de João Gomes, em 20 de Fevereiro, e que passados mais de seis meses ainda não começaram os trabalhos de recuperação.
Manifesta-se igualmente preocupado com o Jardim da Quinta Magnólia, que possui uma flora riquíssima mas que tem vindo a degradar-se, aguardando há muito pela requalificação várias vezes anunciada pela Sociedade Metropolitana de Desenvolvimento e publicitada na revista oficial da Vice Presidência do Governo da Madeira.
No entanto, refere que a situação que mais o preocupa é a do Jardim Cardoso por ser a mais grave. "As plantas endémicas foram destruídas pelo fogo e das exóticas apenas sobreviveram as espécies pirófilas e infestantes conhecidas popularmente por ervas-malcriadas , arbustos-bilhardeiros e árvores-das-bruxas. Muito dificilmente um arquitecto paisagista conseguirá tornar atractivo este jardim".
A carta foi endereçada ao director do JM e enviada a várias pessoas que subscrevem muitas das "newsletters" do blogue da Associação de Amigos do Parque Ecológico do Funchal.
Contactado pelo DIÁRIO, Raimundo Quintal não se mostrou chocado ou preocupado com as declarações do presidente do Governo. Diz que agora as suas preocupações são outras. Ou seja, está mais preocupado com os esqueletos das plantas queimadas, pelo que não pode perder tempo com o matagal.
De resto, diz que os insultos ficam com quem os profere, nomeadamente com aqueles que não são capazes de ter ideias para além desses insultos.
Contudo, esclarece que nunca disse que o comício do PSD teve continuidade depois da palmeira ter morto uma pessoa no Porto Santo. O que disse, e reafirma, é que a festa continuou e continua.
Não o comício, mas a festa que já tinha referido num 'mail' neste termos: "os acontecimentos trágicos dos últimos dias - fogos florestais e queda da palmeira no Porto Santo - e as muitas festas que por aí proliferam, são preocupantes sinais duma imitação popularucha da decadência do império romano".
A entrevista
Na entrevista que concedeu ao DIÁRIO e à TSF, e que agora mereceu reacção do presidente do Governo, Raimundo Quintal disse que com o 20 de Fevereiro e com os incêndios, o futuro da Madeira é cinzento a puxar para o negro.
O geógrafo e ambientalista apontou erros no combate aos fogos e na reconstrução, ao mesmo tempo que denunciou uma inércia de "um poder de tantos anos que já não tem criatividade e já não é capaz de apontar saídas".
Disse mesmo que este ano fecharam-se, com grande estrondo, duas portas: uma pela água e outra pelo fogo, sem que tivesse sido aberta qualquer janela de esperança.
Raimundo Quintal denunciou ainda uma terra que vive da bilhardice e onde nada se debate, salientando que "uma Região onde se constrói com a técnica do funil e onde se aplica a lei da rolha é uma região sem futuro".
Defendeu, por isso, um novo paradigma, que não se aplica só a quem tem governado, mas também ao modo como a oposição tem vindo a funcionar. Referiu que todos dão mais importância ao ter do que ao ser, e que até mesmo a Universidade não tem fomentado o debate tão necessário ao futuro da Madeira. fonte DN, Madeira