..."Lavei o rosto por baixo da torneira do tanque como se apenas a água me livrasse do sonho da água. Sem me enxaguar, olhei a rua por onde escoava a cidade. Por que razão eu sonhava com Marta desde que ela irrompera na casa grande em Jerusalém? A verdade era: a mulher me invadira como o Sol enche as nossas casas. Não havia modo de afastar ou impedir essa inundação, não havia cortinado que fechasse aquela luminosidade.
Talvez a explicação fosse outra. Talvez a Mulher já estivesse dentro de mim mesmo antes de chegar a Jerusalém. Ou talvez Ntunzi tivesse razão quando avisava: ninguém ensina a água. É como as mulheres: elas simplesmente sabem coisas. Inexplicáveis coisas. É por isso que é preciso temer ambas as criaturas: a mulher e a água. Era esse, afinal, o conselho do sono."...
Talvez a explicação fosse outra. Talvez a Mulher já estivesse dentro de mim mesmo antes de chegar a Jerusalém. Ou talvez Ntunzi tivesse razão quando avisava: ninguém ensina a água. É como as mulheres: elas simplesmente sabem coisas. Inexplicáveis coisas. É por isso que é preciso temer ambas as criaturas: a mulher e a água. Era esse, afinal, o conselho do sono."...
In: "Jerusalém" - MIA COUTO, edit. CAMINHO
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