Menires, cromeleques, antas, dólmenes e mamoas. São testemunhos do passado que caracterizam uma grande parte da paisagem em Portugal. O Alentejo marca pontos
Erguem-se magnificentes na paisagem, testemunhas mudas de um passado de mistérios. O último descoberto em Portugal, no Fundão, é um menir, e as suas características ajudam a compreender melhor as relações entre as várias comunidades da Península Ibérica há cinco milénios.
Mas, por todo o País, menires e cromeleques, dólmenes, antas e mamoas - solitários uns, agrupados em grandes necrópoles outros - constituem a herança de monumentos megalíticos nesta faixa, na costa atlântica. Com alguns recordes. Por exemplo, o do maior menir da Península Ibérica, e um dos maiores da Europa: o da Meada, em Castelo de Vide. Portugal é, aliás, um dos países europeus mais ricos nestes vestígios do passado. E o Alentejo, uma das regiões com maior concentração destes monumentos.
A arte megalítica - que utiliza pedras de grande dimensão grosseiramente talhadas - é uma manifestação dos povos agricultores europeus, iniciada há cerca de sete mil anos, no V milénio a.C. No território de Portugal, as primeiras construções deste tipo datam da segunda metade do V milénio a.C. Mas, o que exprimem, afinal, estas enormes pedras?
Em última análise, "estes monumentos asseguravam a ideia de comunidade dos grupos humanos que os produziam", diz o arqueólogo Vítor Oliveira Jorge, o primeiro que fez doutoramento nesta área, no País, e que desbravou caminho no seu estudo na região norte do País, onde até à década de 80 do século XX se pensava não existirem muitos vestígios deste tipo.
Afinal não era verdade. Só em monumentos do tipo da mamoa (túmulos escavados, assinalados por elevações de terra e pedra e de forma redonda), Oliveira Jorge contabilizou mais de um milhar em toda a faixa de território português, entre o Douro e a Galiza.
"Estes homens do Neolítico eram agricultores e tinham o culto dos antepassados. Estas grandes pedras eram erguidas em sua homenagem", explica o arqueólogo. Mas esse culto das pedras era também o culto da terra e do que ela dava em alimento, através da agricultura. Os menires, de forma fálica, seriam um tributo à fertilidade da terra e à fecundidade humana.
Portugal, adianta Vítor Oliveira Jorge, "é um dos países europeus com maior concentração deste tipo de monumentos, mas isso, juntamente com o facto de esta cultura das pedras gigantes se ter desenvolvido sobretudo na faixa atlântica da Europa (nos territórios que hoje são a Suécia, Dinamarca, Irlanda, Reino Unido e, por aí abaixo, Bretanha, Espanha e Portugal), permanece um enigma. Não se sabe por que motivo esta imponente expressão de arte e cultura, dos homens que viveram entre os séculos V e III a.C., aparece nestas regiões. "Isso tem sido motivo de muito debate científico e há várias hipóteses, mas a melhor resposta é que não sabemos." Uma possibilidade é que esta forma de honrar os mortos tenha passado de comunidade em comunidade ao longo da costa. "Havia navegação costeira, e isso poderia ter acontecido", adianta Oliveira Jorge. Hoje resta a sua monumentalidade, e muitos valem bem uma visita com tempo para olhar.
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