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sábado, fevereiro 20, 2010

De bestiais a bestas. Pais da obstetrícia terão sido assassinos em série

fonte: jornal i
Investigação revela que grávidas eram cadáveres muito raros e acusa os médicos de mandar matar pela ciência
O detalhe e precisão dos desenhos deixados por William Hunter e William Smellie têm uma qualidade comparável às fotografias forenses do século XXI, apesar de datarem do século XVIII. Por causa da descrição anatómica que fizeram das grávidas de termo, os dois médicos escoceses são considerados os pais da ginecologia/obstetrícia. Nunca antes fora possível saber tanto sobre os fetos no útero. Mas um estudo agora publicado no prestigiado of the "Royal Society of Medicine" vem lançar a suspeita. O autor da análise, Don Shelton, defende que, mesmo no século XVIII, um cadáver de uma grávida de nove meses era uma raridade. Então, como obtinham eles os corpos?
Depois de analisar a taxa de mortalidade e o acesso aos cadáveres, Shelton conclui que em Londres a taxa de mortalidade de mulheres de termo "era mais baixa do que se pode presumir: 1,4%". Mesmo nos asilos para pobres, os óbitos mais comuns eram de idosos e crianças. Os estudiosos da anatomia podiam utilizar as valas comuns onde eram enterrados os indigentes para as suas investigações, "mas a probabilidade de encontrar uma grávida de nove meses entre os 200 a 250 corpos que eram usados pela comunidade científica naquela altura é próxima de zero", argumenta Shelton.
O próprio Hunter admitiu num dos seus mais importantes estudos - "Anatomia do útero humano grávido" - que "a oportunidade de dissecar úteros de mulheres grávidas raras vezes ocorre. A maioria dos anatomistas, se tiverem sorte, podem fazê-lo uma ou duas vezes na vida".
A juntar a estes dados, o autor do estudo refere ainda que "a gravidez ocorre mais nas mulheres saudáveis do que nas doentes. E a reacção natural de uma grávida quando afectada por uma doença é perder a criança, abortando". O estudo defende, por isso, que Hunter e Smellie, ambiciosos médicos que competiam entre si por um lugar na história da medicina, pagavam a cúmplices para matar grávidas, preferencialmente recém-chegadas à cidade nas levas migratórias das zonas rurais. Em vez de bestiais, eram bestas responsáveis por mandar assassinar entre 35 e 45 mulheres saudáveis entre 1750 e 1774. Nem Jack, o Estripador, fez tantas vítimas.
Em 1753, uma onda de crimes em parturientes terá sido referida pelo rei Jorge III, num discurso ao Parlamento. Mas os influentes médicos terão feito pressão para parar as investigações. Shelton quer agora que o papel destes dois médicos seja revisto.
O presidente do colégio de ginecologia obstetrícia da Ordem dos Médicos portuguesa tem uma palavra para esta teoria: "disparate". Luís Mendes Graça lembra que na altura não se faziam cesarianas e, por isso, ocorriam muitas mortes por complicações no parto. "Esse número em vinte anos parece-me perfeitamente normal." Além disso, lembra, muitos dos estudos eram feitos em corpos de indigentes enterrados em valas comuns. "Até pode ser que houvesse ilegalidades na sua obtenção, mas daí até à tese de assassinato parece-me uma ideia no mínimo ousada", diz.

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