Sonhos e malassadas

por Paulo Gomes - Diário Notícias, Funchal

A atravessar um período carnavalesco, a Lei das Finanças só veio provar que o Governo Regional, depois de se armar em rico com um PIB acima da média nacional e para obter vantagens eleitoralistas, agora diz que é pobre e que precisa da solidariedade do resto do país político. Pela boca morre o peixe, perdeu cerca de 40 milhões por ano do Estado e gastou alguns mais em eleições antecipadas desnecessárias, tudo para um capricho de Jardim, o mesmo que hoje quer bloquistas e comunistas ao seu lado. Admira-me que os 120 milhões que perde por ano da Comunidade Europeia não justifiquem tamanha reacção. Já não são aldrabões e mentirosos, os adjectivos que o PSD regional granjeia ao Governo português, os senhores da Europa apenas cumpriram o que determinaria a saída do objectivo 1 dos apoios europeus. É incompreensível ver como algumas figuras laranja insultam Sócrates, como ainda ontem fez Guilherme Silva. Que não gostem, que não aceitem, que não aturem! Mas o que diriam se alguém fizesse o mesmo ao presidente do Governo Regional ou a outras figuras laranja da Região? Será que não mereciam alguns epítetos pelos euros que desviam para o JM? Chama-se o quê, roubo, desvio, tráfico de influências, gestão danosa ou é pura manutenção da pluralidade? Moralmente o que é que se chama a isto e a tantos outros negócios que envolvem políticos da mesma cor do Governo? Moralmente, como se sentiu o deputado advogado Guilherme Silva quando veio a público o quanto ganhou com o Governo Regional? Será o mesmo que não hesita em colocar dúvida pública sobre as habilitações do primeiro-ministro? Porque não ataca quem enterrou 35 milhões no Lugar de Baixo? Porque não ataca quem deixou prescrever 250 mil de dívida à Região? Porque não ataca quem perdoou dívidas aos clubes de futebol? Porque não ataca quem diz que gastou 20 milhões no Parque Desportivo de Água de Pena? Porque não ataca quem não fiscaliza as construções que são destruídas no domínio marítimo? Porque não ataca as crónicas derrapagens orçamentais das obras na Madeira e a dívida que cresceu tanto nos últimos anos? Porque não ataca a sua classe política que só pensa em servir-se e nunca em servir quem os elegeu, que trabalha tão poucos dias e tem tantas férias num só ano que têm quase todos uma segunda actividade, que se reforma principescamente com tão poucos anos de trabalho e que levam subsídios de reintegração como se despedidos injustamente fossem, mesmo com emprego garantido fora do terreno político. Ataque os bancos que se banqueteiam com lucros de sonho, ataque os "carrapatos" deste país que vêem perdoadas e prescritas dívidas de milhões. Ataque a corja que não paga impostos e segurança social e que não vê publicada a dívida, enquanto os seus trabalhadores têm a reforma em risco. Faça qualquer coisa! Não se limite ao carnaval político desta Madeira tão ao seu gosto e ao gosto dos que se sentam na mesa do poder. E ainda falam em atentados à liberdade de expressão? Em indignidades? Qual Crespo, qual carapuça. Afinal qual o perigo de passar peças jornalísticas da CBS? Quem atura Medina Carreira e as suas profecias? Onde estão Moniz e Manuela? Qual o grau de liberdade de expressão dos jornalistas do Jornal da Madeira? Num Estado de Direito, até ao almoço posso dizer mal do meu pior inimigo! É para isso que se fazem refeições fora de casa. Se não fosse para dizer mal, alguém comia fora? Já estou à espera do macarrão em S. Jorge, onde a Junta de Freguesia doou uma bonita verba à Casa do Povo, mesmo antes do novo presidente (de outro partido, por acaso) ter tomado posse. Ainda nem comi e já dou com a língua nos dentes. Não havia necessidade...