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quinta-feira, fevereiro 25, 2010

a propósito da visita de Cavaco Silva ontem, à Madeira

 
"Um roteiro para Cavaco
Se a ideia de Aníbal Cavaco Silva, que hoje visita a Madeira, é apenas manifestar a solidariedade do País para com esta Região, pode perfeitamente escolher um curto percurso. Para proferir palavras de circunstância, discurso político e apelar à unidade nacional, basta falar na Sala VIP do Aeroporto, no Palácio de São Lourenço e na Quinta Vigia. Quando muito, talvez também tenha tempo para uma curta visita, com batedores e sirenes e carros pretos a brilhar, aos aprazíveis locais à volta da Sé para um passeio pelas já limpas ruas do Aljube e Avenida Arriaga.

Agora, se a ideia de Cavaco Silva fosse ver exactamente os efeitos do temporal que se abateu sobre a Madeira em escassas horas do último sábado, então o Senhor Presidente teria de trocar os sapatos pelas galochas, a que a aqui chamamos botas de água. Se o fizesse, terá muito para ver. Mas Cavaco apenas fica cinco horas e com uma agenda que pouco deixa ver da actual Madeira real.

Um dos guiões possíveis pelos percursos da tragédia madeirense pode começar mesmo no centro do Funchal. É obrigatório conhecer a zona do Mercado, tão visitada por políticos de todos partidos em tempo de campanha eleitoral e até mesmo pelos candidatos a Presidente da República. Agora, em vez de eleitores, comerciantes e clientes estão pedras e lama e máquinas e restos de recheios inteiros de lojas e restaurantes. Pode seguir depois pela zona velha da Cidade, as imediações dos parques de estacionamento do Anadia, Oudinout e Almirante Reis. E a Fernão de Ornelas, cheia de lojas fechadas que ontem tinham os 'stocks' à porta, a caminho do lixo, totalmente enlameadas, depois das limpezas que funcionários e proprietários vêm fazendo desde que a chuva permite deslocações mais seguras para o centro da cidade. O percurso pelo Funchal até pode incluir as intocáveis esplanadas do Apolo e do Golden, mas é imperioso conhecer o novo Dolce Vita, agora com arruamentos e rotunda quase desfeitos.

Depois do centro, uma visita à séria terá certamente uma passagem pelas zonas altas da cidade. A começar no Monte, de onde desapareceu a capela das Babosas e algumas moradias. Depois, a Corujeira de Dentro e de Fora, a Fundoa, a Cova, a Estrada Comandante Camacho de Freitas, todo o acesso que liga o Marítimo ao Andorinha até ao Lombinho, onde estão instaladas várias empresas. Segue-se o Curral Velho e o Laranjal. A comitiva pode aproveitar a ligação de Santo António ao Curral das Freiras, para conhecer o que se passa na Chamorra e no Vasco Gil.

Depois, recomenda-se uma passagem pelo Jardim da Serra, em Câmara de Lobos. Ao chegar à Ribeira Brava, é imperioso conhecer em que ficou a via expresso para São Vicente, agora intransitável. Mesmo assim, a visita pode seguir pelo litoral. Com passagens obrigatórias pela Ponta do Sol e pela Calheta, onde sítios ficaram isolados e onde o mau tempo também causou estragos que se explicam mais com a orografia em que somos obrigados a confiar do que com os modernos planos de urbanização.

Se ainda houver tempo, seria aconselhável uma passagem, por mais rápida que seja, pelo Porto Moniz, São Vicente e Santana. Desta vez os concelhos do Norte não são notícia, mas há menos de um mês sofreram muito com temporais que também atingiram bens patrimoniais, embora sem fazer vítimas. Dessa vez, no entanto, foi quase nula a solidariedade nacional e até mesmo a regional terá chegado mais tarde do que seria expectável.

Uma vez que Cavaco já conhece os cantos à casa da Madeira Nova, será dispensável passar agora pelos bonitos complexos balneares (também eles atolados em lama) ou pela Casa das Mudas. Dessa parte da Madeira que levou o Presidente a tanto elogiar a obra de Jardim, resta agora, pouco mais do que as vias rápidas. Tão úteis para ver as maravilhas como para agora ver a desgraça.

Visita de cinco horas

O Presidente da República vem hoje à Madeira ver a dimensão dos estragos provocados pela catástrofe. Apesar de ainda não haver uma agenda definida, o DIÁRIO sabe que Cavaco Silva vai passar cerca de cinco horas na Região e fará uma visita aos locais mais afectados pelo mau tempo. Durante o dia de ontem, um dos assessores da Presidência já esteve na Região para preparar a visita. O Chefe de Estado chega por volta das três horas e vai ser recebido pelo representante da República na Região, Monteiro Diniz, pelo presidente do Governo Regional, Alberto João Jardim, e pelo presidente da Assembleia Legislativa da Madeira, Miguel Mendonça. Ao fim da tarde fará uma declaração à comunicação social e às oito horas deve regressar a Lisboa."


 

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