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quarta-feira, fevereiro 10, 2010

Em defesa da melancolia

A ideia proposta por Ralph Waldo Emerson em «Experience», um ensaio de 1844 no qual o filósofo e poeta norte-americano anotava que a idolatria da felicidade nos cega para o mundo, dá o mote a este Contra a Felicidade. Eric G. Wilson considera que as pessoas permanentemente sorridentes, aparentemente felizes e satisfeitas com a sua própria vida, são sempre mais superficiais, menos interessantes e criativas. A ideia em si não é incomum, podendo até parecer um preconceito. Mas Wilson vai mais longe e procura principalmente explicar os benefícios que colhe um ser humano triste e melancólico. Se é verdade que a tristeza exprime muitas vezes o pessimismo, a tragédia ou o sofrimento, ela invoca também a rectidão, a profundidade, a interrogação, a vitalidade. Artistas, autores ou figuras da cultura popular – como Beethoven, Van Gogh, Blake, Keats, Melville, Kafka, John Lennon, Bruce Springsteen ou Joni Mitchell – que viveram ou exercitaram a sua natural tristeza de forma comprovadamente vantajosa, surgem destacados como exemplares, sustentando esse ponto de vista. A poesia romântica e a literatura americana do século XIX apoiam o autor na construção e na enunciação do seu argumento, que insiste ainda na culpabilização do consumismo pela afirmação dessa cultura da «alegre» superficialidade que Wilson tanto abomina. Pois ser contra a felicidade pela felicidade, fugir ao regozijo aparente, é verdadeiramente «estar perto da alegria, escolher o êxtase.» 

[Eric G. Wilson, Contra a Felicidade. Em defesa da Melancolia. Trad. de Pedro Soares. Estrela Polar, 160 págs.]

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