Eu não sei se os teus olhos se gaivotas
mas era o mar e a Índia já perdida as ilhas e o azul o longe e as rotas
minha vida em pedaços repartida. Eu não sei se o teu rosto se um navio
mas era o Tejo a mágoa a brisa o cais meu amor a partir-se à beira-rio
em uma nau chamada nunca mais. Eu não sei se os teus dedos se as amarras
Ou talvez cordas de guitarras
ó meu amor de embarque desembarque.
Eu não sei se era amor ou se loucura
ó meu amor de risco e de aventura
não sei se Ceuta ou Alcácer Quibir. Eu não sei se era perto se distante
ou Camões a penar por Violante
as sete penas do amor proibido.Eu não sei se ventura se castigo
talvez o último cantar de amigo
amor de perdição amor de glória.Eu não sei se teu corpo se meu chão
teu gesto a grande peregrinação
das sete penas do amor lusíada. Manuel Alegre, in “Atlântico”
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