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domingo, junho 28, 2009

E se as abelhas desaparecessem?

Portugal é dos países menos atingidos, mas de 2004 a 2007 morreram 3,5 mil milhões de abelhas no País. A varroose é a culpada. Os espanhóis já arranjaram solução: fabricar 'superabelhas'
As abelhas estão a desaparecer. Nos últimos anos, um pouco por todo o mundo, milhões de colmeias têm sido dizimadas. O cenário é apocalíptico para os insectos, mas também para a humanidade. Como disse Albert Einstein: "Quando as abelhas desaparecerem da face da Terra, o homem tem apenas quatro anos de vida." Mas porque estão as abelhas a desaparecer? "A causa é ainda desconhecida, o que os investigadores sabem é que há vários factores que podem ter causado esta situação", explica o professor universitário e especialista nesta matéria Miguel Vilas Boas.
Apesar de as abelhas terem um inimigo sem rosto, há uma doença que os especialistas acreditaram ser responsável por várias mortes: a varroose. Considerada a "sida das abelhas", este vírus é provocado por um ácaro - a varroa - que "enfraquece as abelhas e torna-as susceptíveis a outras doenças".
Só no ano passado em Espanha desapareceram nove mil milhões de abelhas. Para combater este voo para a extinção, uma equipa de universitários de Córdoba decidiu criar aquilo a que chamaram "superabelhas" (ver infografia). Neste processo as rainhas são inseminadas e as abelhas nascem fortificadas, resistentes a ácaros.
Em Portugal a população de abelhas também tem vindo a diminuir, mas Vilas Boas acredita que "não houve nenhum surto mortífero como nos outros países". Tal é confirmado por João Casaca, da Federação Nacional de Apicultores (FNAP). "Em todo o País, foi-nos comunicados apenas uma situação de um apicultor que viu as suas colmeias completamente dizimadas."
Mas a varroose também preocupa os apicultores nacionais. Tendo em conta o boletim do Ministério da Agricultura, só entre 2004 e 2007 houve uma quebra de 3, 5 mil milhões de abelhas. O número impressiona, mas é amenizado por especialistas que garantem que o número de apicultores também reduziu significativamente. Ora, "menos apicultores, menos abelhas".
Ainda assim, a varroose está presente em Portugal. E os apicultores têm noção do perigo, pois é a doença que destrói mais colmeias no País. Aliás, consciente desta situação, o Ministério da Agricultura chegou a distribuir gratuitamente produtos para travar o flagelo. Agora, já não são doados, mas continuam a ser comparticipados. É talvez por isso, que o combate à varroose em Portugal se centre num único método. "O uso de acaricidas", esclarece João Casaca, que garante que por cá não se criam "superabelhas" como em Espanha. Tal também não está previsto num futuro próximo. Isto porque, como explica Vilas Boas "ninguém está a utilizar a inseminação, o único programa que existe é de selecção das rainhas. Nada mais."
Em Portugal, os números também não são tão catastróficos. "É um processo que tem custos, mas está controlado", explica Vilas Boas. Além disso, o País tem a "bênção" de ter uma das poucas regiões do mundo onde a varroose não existe, como é o caso de algumas ilhas dos Açores.
Apocalipse a preto e amarelo
O perigo de extinção das abelhas é real. Nos EUA, a segunda potência da apicultura a seguir à China, mais de 60% das populações de abelhas desapareceram em 24 estados. A crise é tal que o Congresso teve de aprovar um plano de emergência, como faz em tempo de guerra ou de crise económica. Aliás, sob o pretexto económico, a secretária da Agricultura norte-americana lembrou que "sem abelhas deixa de existir Coca-Cola". Como quem diz: senhores do capital mexam-se, que a coisa é séria.
Os números na Europa não são mais animadores. Segundo o diário espanhol El Mundo, em Itália, Bélgica e Alemanha metade das abelhas desapareceram. A varroose não será o único problema e Vilas Boas acredita mesmo que "quando descobrirem a causa real, ela vai variar de país para país". João Casaca lembra algumas das potenciais causas em diferentes países: "Na Alemanha tem a ver com o cultivo de sementes, em França pensa-se que seja a utilização de pesticidas nas culturas e em Espanha será a sobreprodução. Há apicultores a mais."
Certo é que estes polinizadores continuam a desaparecer. E como seria o mundo sem abelhas?. "Era uma catástrofe", alerta Miguel Vilas Boas. "Todo o ecossistema seria alterado e Einstein, provavelmente, teria razão. Seria uma crise muito pior que a económica porque nós [humanidade] ficaríamos sem comida." É por este cenário que muitos especialistas chegam a evocar o hino do Reino Unido. God Save the Queen. Em português, Deus Salve a Rainha. A rainha das abelhas, entenda-se.
In: DN, Lisboa

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