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terça-feira, junho 23, 2009

SANTOS POPULARES - S.João Baptista


Judeia, 2 a.C. - 30 d.C. Pregador judeu do início do séc. I

João era conhecido por João Baptista, porque baptizava nas águas do Jordão todos aqueles que acreditavam que um dia a lei dos homens seria alterada com a chegada de um "Messias".
Como sabemos, foi S. João quem baptizou Cristo, quando este iniciou a sua vida de pregador. João Baptista é uma das figuras mais respeitadas da história judaico-cristã e a sua vida é também admirada pelos muçulmanos. Tem um culto assinalável na Turquia, bem como em várias zonas do Oriente. Envolve-o uma aura de homem bom, num sentido universal e muito mais vasto que o da santidade da Igreja Católica.
João era filho do sacerdote Zacarias e de Isabel, primo de Jesus de Nazaré, que ainda não iniciara a sua vida pública. Isabel concebera-o em idade avançada e João, desde o seu nascimento, tinha a missão de anunciar a chegada do Salvador, Jesus Cristo.
Mas as profecias, mesmo para Herodes Antipas, eram para respeitar e João Baptista tinha o condão de o perturbar. Herodes era um homem pouco culto, medroso, ignorante, pouco mais do que um nómada, e tinha medo do profeta. O tetrarca mandou que o trouxessem à sua presença, pois queria ouvi-lo. João repetiu-lhe o que já dissera antes, que o casamento dele com a cunhada era "sacrilegio" segundo as leis. E mais, disse-lhe que a repudiasse e que voltasse para a mulher legítima, que expulsara injustamente, e que, se não o fizesse, cairia a maldição sobre Israel. Herodes, sob pressão de Herodias, mandou-o encarcerar numa prisão-cisterna.
A história dos Hebreus é longa e complexa. Vaguearam pelo deserto em busca da Terra Prometida e, desde sempre, os profetas anunciaram que um dia viria um redentor. Ora, Herodes não ignorava que a religião era algo a respeitar. Vivia torturado entre o prazer e o dever. Era fraco. Não resistia às artimanhas da cunhada, agora sua mulher, que se dizia ter casado com ele apenas por interesse. Herodes nada tinha que se comparasse com o pai, Herodes, "o Grande", que, na religião católica, ficou conhecido por ter ordenado a "matança dos inocentes", isto é, ter mandado executar todas as crianças com menos de dois anos, quando ouviu dizer que um novo rei viria. Esse rei era afinal e apenas "o Menino de Nazaré" e o seu Reino não seria deste mundo. Não há dados históricos deste facto e, em História, é preciso conhecer as várias versões.
Herodes, "o Grande", filho de Antípatro, foi desde 39 a. C. governador da Galileia e soube entender-se com os imperadores de Roma. César deu-lhe o governo da Galileia e durante a vigência do Imperador António (o da paixão por Cleópatra) Herodes obteve o reino da Judeia. Herodes, "o Grande" tomou Jerusalém em 37 a. C. e mandou fazer grandes obras de arquitectura sendo o palácio a obra mais importante, que demorou oito anos a construir. O seu reinado foi uma época de riqueza.
(Não podemos esquecer que o cognome de "o Grande" foi usado pelos historiadores, durante séculos, para homens e mulheres que fizeram grandes conquistas e construções majestosas, não estando os atributos morais em causa. Sobre Alexandre, "o Grande", ainda hoje recaem suspeitas se terá ou não estado envolvido na morte do pai; Catarina, "a Grande" (da Rússia) mandou matar o marido, que era o legítimo herdeiro do trono. E, mesmo que Herodes, "o Grande", tivesse mandado matar milhares de crianças, é preciso não ignorarmos que, nesse tempo, imperadores, reis e grandes senhores tinham poder de vida e de morte sobre a família e súbditos.)
Mas falemos da bela Salomé. Herodes Antipas quis esquecer que as palavras de João o torturavam e não o deixavam dormir. Era o seu aniversário e quis festejá-Io com toda a pompa. Os seus territórios eram vastos, chegavam bem para lá do rio Jordão e a festa deveria ser falada por toda a parte. Foram convidados todos os príncipes, que acorreram da Judeia e da Galileia e trouxeram os seus séquitos. Bailarinas de longes paragens vieram com a sua graça animar o banquete. Foram preparadas as melhores iguarias.
Entre cada prato servido, tocava-se música e as bailarinas núbias e egípcias, ao som de alaúdes e flautas esvoaçavam entre os convivas. Os vinhos de Chipre e da Grécia enchiam taças de metais preciosos e reinava a alegria. Na sala do banquete só era permitida a entrada a elementos do sexo masculino. Bailarinas e escravas, não eram consideradas pessoas. Estavam ali para o prazer dos convidados. Era o costume do tempo.
De repente, a orquestra faz silêncio e, para surpresa de todos, aparece uma bailarina desconhecida acompanhada de escravas. Todos esquecem a refeição e não tiram os olhos daquela beleza sem rival - era Salomé. Ela vai dançar. As escravas passam-lhe pelo corpo perfumes, sândalo e outras essências. Colocam-Ihe nos braços e tornozelos pulseiras. Salomé está descalça e as suas vestes são tules e finas musselines transparentes, a fazerem adivinhar um corpo perfeito... e então Salomé começa a dançar.
(Eugénio de Castro, no seu poema lírico, descreve-a assim:

"Radioso véu, mais leve que um perfume,
Cinge-a, deixando ver sua nudez morena,
Dos seus dedos flameja o precioso lume
E em cada mão traz uma pálida açucena.
E a infanta avança. ao som dos burcelins...
Como sonâmbula perdida
Em encantos, místicos jardins,
Dir-se-ia que dança desmaiando
Ao perfume das flores que estão em roda...
Dir-se-ia que dança e está sonhando...
Dir-se-ia que a estão beijando toda...")

Salomé termina a dança. Os aplausos são entusiastas. Os convidados de Herodes querem mais. E Herodes, louco de desejo, pede: "Salomé, dança mais uma vez!" Ela recusa, esquiva, mas de novo o tetrarca seu tio insiste: "Dança para mim outra vez! Se o fizeres, pede-me o que quiseres que te darei, nem que seja metade dos meus reinos. Tudo será teu!" Salomé hesita, mas depois, num relance, percebe que tem, naquele momento um poder imenso e vai usá-lo. Como? Caprichosa, e sem pestanejar, como quem tira um fruto maduro de uma taça, diz: "Quero a cabeça de João Baptista numa bandeja de prata."
Herodes Antipas fica branco, quase petrificado, não acredita no que ouve e diz-lhe para escolher algo diferente. Que peça jóias, tecidos caros mandados vir de longínquas paragens, os luxos mais inatingíveis, mas a cabeça do profeta não. Herodes tem medo, não é a bondade que o faz agir assim, ou talvez, lá no fundo, pense que aquele homem não merece a morte, porque não é um criminoso, não atentou contra a vida de ninguém, embora nesse tempo mandar matar fosse quase uma banalidade.
Imperturbável, Salomé repete, sem hesitar: "Danço outra vez para ti, se me trouxerem a cabeça de João Baptista." E Herodes cede. Tem de cumprir a palavra dada perante tantas testemunhas e manda que as suas ordens se cumpram. Entrega ao chefe da guarda pessoal o seu anel, para que este o mostre ao carrasco e para que este execute, sem demora, a sentença. A prisão onde estava João Baptista distava ainda alguns quilómetros do palácio. Terá havido um silêncio arrepiante? Ou a música e o festim prosseguiram?
Um pouco mais tarde, a cabeça de João Baptlsta é trazida à presença de Salomé. Esta olha-a, ainda ensanguentada. A partir daquele momento, João Baptista é um mártir, é o santo que tantos séculos depois a humanidade não esqueceu. É evocado no dia do seu nascimento - 24 de Junho -, mas, em alguns locais, também se comemora a sua memória a 29 de Agosto, dia em que foi degolado. Desde logo, S. João foi respeitado e o imperador Constantino mandou edificar a basílica de São João de Latrão. Roma possui mais de 20 igrejas consagradas ao santo degolado por ordem de uma mulher.
Em Portugal são muitas as festividades devocionais a este Santo.

In: net e Maria Luísa paiva Boléo

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