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terça-feira, junho 23, 2009

"O Ameaçado"


"É o amor. Terei de me esconder ou fugir

Crescem as paredes de seu cárcere como em um sonho atroz

a bela máscara mudou, mas como sempre é a única

de que me servirão meus talismãs: o exercício das letras, a vaga erudição,

o aprendizado das palavras que usou o áspero Norte para cantar seus mares e suas espadas

a serena amizade, as galerias da Biblioteca, as coisas comuns, os hábitos, o jovem amor de minha mãe

a sombra militar de meus mortos, a sombra intemporal, o gosto do sonho?

Estar contigo ou não estar contigo é a medida do meu tempo

O Cântaro já se quebra sobre a fronte, já se levanta o homem à voz da ave

já escurecem os que olham pelas janelas, mas a sombra não trouxe a paz

É, eu sei, o amor : a ansiedade e o alívio de ouvir tua voz

a espera e a memória, o horror de viver no sucessivo

É o amor com suas mitologias, com suas pequenas magias inúteis

Há uma esquina pela qual não me atrevo a passar

Agora os exércitos me cercam, as hordas

(Este quarto é irreal; ela não o viu )

O nome de uma mulher me delata

Dói-me uma mulher em todo o corpo "

Jorge Luiz Borges

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