A iluminação pública inadequada não alumia onde deve e causa poluição luminosa, um fenómeno pouco divulgado que estará em foco, a 18 de Julho, na "Noite das Estrelas", uma iniciativa para quem não tem medo do escuro.
No âmbito da actividade, que se insere no Ano Internacional da Astronomia e que coincide com a abertura do programa Astronomia no Verão da Agência Nacional Ciência Viva, é proposto aos municípios que desliguem parcialmente a iluminação pública por um período de uma hora.
"Ouvimos falar de diversos factores poluentes praticamente todos os dias, mas não são comuns as referências à poluição luminosa", assinalou Pedro Ré, presidente da Associação Portuguesa de Astrónomos Amadores e coordenador da actividade.
De acordo com o responsável, este tipo de poluição - que passa muitas vezes despercebida a quem vive nos centros urbanos - "está relacionada com a má iluminação pública", ou seja, com a opção por candeeiros "que iluminam tudo excepto aquilo que interessa".
Há candeeiros e projectores que, por concepção inadequada ou instalação incorrecta, emitem luz de forma mal direccionada, isto é, para além do seu alvo ou zona de influência e sem qualquer efeito útil.
"A iluminação pública é absolutamente essencial, mas é necessário que os candeeiros sejam eficazes, isto é, que não gastem muita energia e que alumiem de forma adequada", sublinhou Pedro Ré, dando como exemplo crítico "os globos, que iluminam para cima e para os lados, mas não para baixo".
Para o também biólogo e professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, a luz deve incidir nas vias públicas e nos locais onde transitam pessoas mas muitos dos candeeiros públicos "dificultam grandemente a visibilidade para quem circula na rua à noite, a pé ou guiando um carro".
Pedro Ré apontou ainda como sinal de poluição luminosa "o halo de luz à volta das grandes cidades", que resulta da difusão da luz pela poeira atmosférica.
A "Noite das Estrelas" - também englobada no projecto internacional "Dark Skies Awareness" ("Sensibilização para os Céus Escuros", numa tradução possível) - visa igualmente alertar para a necessidade de "poupar energia" e "preservar o céu nocturno".
"Existem várias tecnologias ao nosso alcance, nomeadamente candeeiros com 'leds' que consomem cinco vezes menos do que um candeeiro vulgar", exemplificou o coordenador, segundo o qual 12 cidades do continente e das ilhas já confirmaram a sua adesão, caso de Bragança, Porto, Moimenta da Beira, Mira, Coimbra ou Lisboa.
"A ideia não é apagar a iluminação pública numa cidade inteira mas apenas em determinados pontos. Em Lisboa, estamos a pensar na zona da Torre de Belém ou em frente ao Mosteiro dos Jerónimos, por serem locais onde passa muita gente e de fácil identificação", revelou.
No que respeita à beleza do céu nocturno, Pedro Ré lembrou que muitas pessoas "nunca observaram a Via Láctea" e relacionou a "Noite das Estrelas" com outra actividade, já em curso, intitulada "E agora eu sou Galileu", que pretende repetir as observações do astrónomo italiano.
Entre os desafios da observação do céu está a contagens de estrelas, que é também uma forma de avaliar o grau de poluição luminosa de cada ponto do país.
O Ano Internacional da Astronomia, que decorre em 136 países sob o lema "Descobre o teu Universo", é dedicado a Galileu Galilei e aos 400 anos da sua utilização pioneira do telescópio para observações astronómicas.
In: DN-Ciência
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