"«O famoso aforismo, dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus (Mt 22, 21) e a declaração de Jesus, diante de Pilatos, o meu Reino não é deste mundo (Jo 18, 36), pertencem às origens do cristianismo. É o princípio da separação do poder político e das instituições religiosas. Apesar de todas as interferências e confusões político-religiosas, no regime de Cristandade, este princípio criou, desde o começo, uma tensão propícia à eclosão do Estado moderno emancipado de toda a tutela religiosa». Frei Bento Domingues
Esta é uma velha questão, que sempre acompanhou os poderes, tanto o político tanto o religioso. Muitas vezes na história este poderes se confundiram terrivelmente e quando tal aconteceu sabemos que foram não menos terríveis as suas consequências.
O tempo da Democracia, podia ter trazido uma clareza importante e até uma separação saudável para os dois campos, o político e o religioso. Porém, a nossa terra caminhou para a «democracia subsídio-dependente» - ninguém escapou a esta lógica, nem partidos, nem empresas de todas as cores partidárias, nem os órgãos de comunicação social, nem nenhuma paróquia, nem a Diocese, nem nenhuma congregação religiosa e nem até nenhuma confissão religiosa (as ditas seitas e as igrejas irmãs filhas da Reforma ou Protestantes).
O descalabro foi tal que tudo era objecto de subsídio. Não imperaram critérios nenhuns, pois até celebrações religiosas (Eucaritias) receberam subsídio estatal. Não se discute que a colaboração do Estado é imprescindível, mas dentro de determinados parâmetros e com critérios previamente bem definidos. O Cardeal Patriarca de Lisboa afirmou-o claramente desta forma: «A laicidade afirma-se, assim, como uma neutralidade em matéria religiosa, neutralidade que exige também que a não religião ou o laicismo não se transformem em doutrina do Estado. A separação entre a Igreja e o Estado, é uma exigência da laicidade e pôs termo à mistura de esferas, frequente no estatuto de Estado confessional. «Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus», ensinou Jesus (Mt 22,21). As únicas áreas de convergência, que não podem ser de confusão, entre a acção da Igreja e do Estado, são o serviço da sociedade e a busca do bem-comum. Embora a Lei de 1911 fosse uma má Lei, a Igreja aceita e respeita este estatuto de separação» in Carta Pastoral à Igreja de Lisboa, do Cardeal Patriarca D. José da Cruz Policarpo, 2004.
Neste âmbito falta-nos aprender claramente que os caminhos da Igreja não podem ser os caminhos da política partidária. E para bem da política e das religiões, temos todos nós cristãos dentro e fora dos meios políticos, que aprender a não misturar as actividades, os propósitos e os caminhos que devem ser sempre os do Evangelho.
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