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quarta-feira, maio 13, 2009

Canção na plenitude


Não tenho mais os olhos de menina
nem corpo adolescente,
e a pele
translúcida há muito se manchou.
Há rugas onde havia sedas,
sou uma estrutura
agrandada pelos anos
e o peso dos fardos
bons ou ruins.
(Carreguei muitos com gosto e alguns com rebeldia.)
O que te posso dar é mais que tudo
o que perdi:
dou-te os meus ganhos.

A maturidade que consegue rir

quando em outros tempos choraria,

busca te agradar
quando antigamente
quereria
apenas ser amada.
Posso dar-te muito mais
do que beleza
e juventude agora:
esses dourados anos
me ensinaram a amar melhor,
com mais paciência
e não menos ardor,
a entender-te
se precisas,
a aguardar-te quando vais,

a dar-te regaço de amante e colo de amiga,

e sobretudo força — que vem do aprendizado.
Isso posso te dar: um mar antigo e confiável

cujas marés — mesmo se fogem — retornam,

cujas correntes ocultas não levam destroços

mas o sonho interminável das sereias.


LIA LUFT

O texto acima foi extraído do livro "Secreta Mirada", Editora Mandarim - São Paulo, 1997, pág. 151.

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