É primavera mas o siroco do norte de África tudo cobre e há no ar pesado poeira ocre que o calor comprime e estrangula, num misto de plasma opaco e luminoso.
As pessoas olham-se, incomodadas. Nada apetece além da passividade.Olho as palmeiras que, infestantes, invadem o Porto Moniz e penso em tis, castanheiros. Olho as palmeiras desfeitas, cansadas de mudanças e ventos, e penso em sombras que impedem o sol.
Ninguém ri com este tempo, todos se franzem, murmuram.
A fita cinzenta da estrada derrete e ondula ansiando o fim do dia.
No relógio parado da torre da igreja nada acontece, num entendimento antigo que não é propositado.
Lentamente olho em volta querendo guardar o momento. Se a morte viesse, agora, a ninguém surpreendia.
Porto Moniz, 27 Abril 2002
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