O sapo-parteiro ibérico não está ameaçado em Portugal, mas em Espanha as populações do sapo-parteiro comum estão já a ser dizimadas pelo fungo 'chytridiomycosis', alerta a bióloga Ana Margarida Carvalho, que diz não conhecer programas específicos de conservação.
Endémico da Península Ibérica, este curioso sapo tem uma particularidade que o distingue da maioria dos outros anfíbios: é o macho que cuida dos ovos durante todo o período de incubação. Depois do acasalamento e das posturas, normalmente de 40 ovos unidos por um cordão, o macho enrola-o em torno das pernas e na parte inferior das costas, transportando-os até aos charcos ou ribeiras onde eclodem.
Estes cuidados parentais chegam a ser redobrados e em certos casos triplicados, uma vez que o mesmo macho pode carregar posturas de duas ou três fêmeas. O que totaliza praticamente 120 ovos. Um esforço titânico, se considerarmos que tem menos de 5 centímetros de comprimento.
A sua presença em Portugal remonta ao período glaciar do Pleistoceno, "há muitos milhares de anos, quando a espécie se refugiou na Península Ibérica", refere Ana Margarida Carvalho, bióloga e Mestre em Biologia da Conservação. No nosso país, distribui-se essencialmente a sul do Tejo; para Norte atinge o extremo este do Parque Natural do Montesinho. "As regiões com maior densidade populacional são o Alentejo e Algarve."
Apesar da grande ameaça global aos anfíbios, esta é uma espécie que parece contrariar a tendência. No Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal é consi- derada como 'Não preocupante', "porque existem indivíduos em abundância', explica Ana Margarida Carvalho. As suas ameaças, acrescenta a bióloga "são as mesmas que afectam os outros anfíbios" - destruição e fragmentação de habitats, principalmente devido à construção de estradas e barragens. "A construção da barragem do Alqueva, por exemplo, representou uma destruição significativa das zonas onde a espécie habitava".
Por outro lado, também as monoculturas florestais exóticas, a poluição e contaminação de rios e ribeiras representam riscos acrescidos para a sobrevivência da espécie, "em especial do Alentejo, onde ainda existem áreas de cultivo extensas. O uso de pesticidas e agro-químicos, acabam por poluir também algumas zonas húmidas, as áreas fundamentais para o sapo-parteiro ibérico desenvolver a sua fase larvar".
A introdução nos nossos rios de espécies exóticas, como o achigã, o perca-sol ou o lagostim-vermelho, "são outro factor de risco". Já em fase adulta, o sapo-parteiro ibérico tem como inimigos naturais, cobras de água e as aves de rapina nocturnas, como mochos e corujas, "mas que acabam por fazer parte da cadeia trófica", diz a bióloga. "Mas uma das potenciais ameaças para o futuro poderá ser o fungo chytridiomycosis, que já afectou populações de sapo-parteiro comum em Espanha", salienta Ana Margarida Carvalho.
Apesar de todos os estudos que têm vindo a ser feitos sobre a espécie, (por ser um endemismo ibérico), "não se conhecem programas específicos de conservação".
Conhecido pelos seus hábitos crepusculares, o sapo-parteiro ibérico sai dos abrigos ao anoitecer, alimenta-se e volta aos refúgios quando o sol nasce. Durante os meses mais quentes não sai dos abrigos, "tem hábitos escavadores e enterra-se com frequência, pois não suporta as temperaturas extremas. Só reaparece com as primeiras chuvas de Outono e apenas tem actividade quando existe 90% a 100% de humidade e a temperatura é de 10 a 15 graus".
O seu canto só pode, por isso, ser ouvido nos meses entre o Outono e a Primavera, altura em que também se reproduz. As fêmeas preferem os machos que emitam as sonorizações mais graves, sinónimo de espécime maior. E quando ameaçado, o sapo-parteiro ibérico emite uma vocalização semelhante à do mocho-de-orelhas para assustar os perseguidores.
in DN, Lisboa
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