O mundo está nublado, mas não aqui,
onde se adensa a tristeza do mundo.
Deixou tanta luz o anjo que voa
para a suspensão da infância
na toca de um canário adormecido?
A língua vive na boca
calcinada pela curva do sol.
Junto do rio ou Tejo que fala com a cidade
algo existe de distante implacável
em acontecer o que não acontece.
Como se ata o que sou para mim
com o que não sou para mim?
Aqui me cansa a morte, que nada tem lá dentro,
e pelo meu quarto passeia-se um que usa o meu passado.
Ah, transparência embalada pela
pegada do animal
que procura o encontrado. Dizeres
que velam o que mostram. Lenta
felicidade de ruas contagiadas
pelo que não se espera.
Poema de Juan Gelman traduzido por Pedro Tamen
Filho de ucranianos de origem judia, o poeta argentino Juan Gelman nasceu em Buenos Aires, em 1930. Considerado hoje um dos principais escritores em língua castelhana, Gelman estreou em 1956 com o livro Violín e Otras Cuestiones, obra que deu início a uma seqüência regular de títulos.
A partir dos anos 70, a vida e a obra do poeta foram marcadas por acontecimentos trágicos, deflagrados pela ditadura militar argentina. Seu filho, Marcelo, e a esposa, Claudia, grávida, foram seqüestrados em 1976. Os dois entraram para a lista de desaparecidos. Somente em 1989 o poeta encontrou os restos mortais do filho. No ano 2000, localizou a neta, nascida no cárcere, já com 23 anos. A menina fora adotada pela família de um militar uruguaio. Os restos de Claudia não foram encontrados até hoje. Em 1976 ela foi levada para o Uruguai, num esquema resultante da colaboração entre ditaduras vizinhas. O poeta, agora com reforço da neta, ainda hoje move uma campanha mundial em busca dos restos mortais da nora.
A partir dos anos 70, a vida e a obra do poeta foram marcadas por acontecimentos trágicos, deflagrados pela ditadura militar argentina. Seu filho, Marcelo, e a esposa, Claudia, grávida, foram seqüestrados em 1976. Os dois entraram para a lista de desaparecidos. Somente em 1989 o poeta encontrou os restos mortais do filho. No ano 2000, localizou a neta, nascida no cárcere, já com 23 anos. A menina fora adotada pela família de um militar uruguaio. Os restos de Claudia não foram encontrados até hoje. Em 1976 ela foi levada para o Uruguai, num esquema resultante da colaboração entre ditaduras vizinhas. O poeta, agora com reforço da neta, ainda hoje move uma campanha mundial em busca dos restos mortais da nora.
Sem comentários:
Enviar um comentário