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sábado, junho 13, 2009

CIDADES - Juan Gelman

Assim, ternura de Lisboa no meio do terror:
O mundo está nublado, mas não aqui,

onde se adensa a tristeza do mundo.

Deixou tanta luz o anjo que voa

para a suspensão da infância

na toca de um canário adormecido?

A língua vive na boca
calcinada pela curva do sol.
Junto do rio ou Tejo que fala com a cidade

algo existe de distante implacável
em acontecer o que não acontece.

Como se ata o que sou para mim

com o que não sou para mim?

Aqui me cansa a morte, que nada tem lá dentro,

e pelo meu quarto passeia-se um que usa o meu passado.

Ah, transparência embalada pela

pegada do animal

que procura o encontrado. Dizeres

que velam o que mostram. Lenta

felicidade de ruas contagiadas

pelo que não se espera.

Poema de Juan Gelman traduzido por Pedro Tamen

Filho de ucranianos de origem judia, o poeta argentino Juan Gelman nasceu em Buenos Aires, em 1930. Considerado hoje um dos principais escritores em língua castelhana, Gelman estreou em 1956 com o livro Violín e Otras Cuestiones, obra que deu início a uma seqüência regular de títulos.

A partir dos anos 70, a vida e a obra do poeta foram marcadas por acontecimentos trágicos, deflagrados pela ditadura militar argentina. Seu filho, Marcelo, e a esposa, Claudia, grávida, foram seqüestrados em 1976. Os dois entraram para a lista de desaparecidos. Somente em 1989 o poeta encontrou os restos mortais do filho. No ano 2000, localizou a neta, nascida no cárcere, já com 23 anos. A menina fora adotada pela família de um militar uruguaio. Os restos de Claudia não foram encontrados até hoje. Em 1976 ela foi levada para o Uruguai, num esquema resultante da colaboração entre ditaduras vizinhas. O poeta, agora com reforço da neta, ainda hoje move uma campanha mundial em busca dos restos mortais da nora.

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