O sonho de Luc Louisville parece simples: comer três vezes por dia, como "qualquer pessoa normal". Mas esse é um desejo longínquo. "Só comemos uma vez por dia, quando podemos", conta esta haitiana de 59 anos, mãe de cinco filhos, residente em Balan, a uns 30 quilómetros da capital, Port-au-Prince.Mais de 1,9 milhões de habitantes do Haiti, cerca de um quatro da população, vivem em "insegurança alimentar", mas estão longe de estar sós. A cada seis segundos uma criança morre de fome, mais de mil milhões de seres humanos sofrem com a falta de alimento, revelam os dados mais recentes da FAO, organização das Nações Unidas para a alimentação e agricultura, que hoje inicia em Roma uma cimeira de dois dias.
Por incrível que pareça, o país de Luc, que falou das suas dificuldades à AFP, não é sequer daqueles em que se vivem as piores situações a nível global: 31 Estados, 20 em África e 11 na Ásia, estão em situação de grave insegurança alimentar e "precisam de ajuda urgente". Apesar das boas colheitas de cereais deste ano, os preços dos alimentos não baixaram.
A fasquia para a cimeira de Roma estava alta e o director-geral da FAO não se poupou a esforços para chamar a atenção para o problema - anteontem cumpriu um dia de greve de fome e antes apelara à subscrição, à escala mundial, de uma petição para protestar contra a fome (www.1billionhungry.org). "Cada clique será um aguilhão para que os dirigentes do mundo passem das palavras aos actos", afirmou Jacques Diouf.
Mas as últimas informações fazem recear que os resultados acabem por ser modestos. O projecto de declaração final não faz referência ao compromisso que a FAO desejava ver consagrado para erradicar a fome até 2025, nem aos 44 mil milhões de dólares de investimento anual necessários para o conseguir.
Para acabar com a fome, seria preciso aumentar a percentagem de ajuda ao desenvolvimento dedicada à agricultura dos cinco por cento actuais para 17 por cento, o que significaria um regresso aos níveis dos anos 1980, estima a organização.
Atrasar metas
O texto da cimeira, que deve ser aprovado hoje, deverá ser bem mais vago e fazer apenas referência a um "compromisso para desenvolver acções para de modo sustentado erradicar a fome o mais cedo possível", refere o projecto de declaração a que a agência Reuters teve acesso. O documento não faz qualquer menção a prazos.
Sem um maior envolvimento, um dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio - reduzir a metade a pobreza e a fome até 2015 - parece comprometido. Responsáveis das Nações Unidas admitiram mesmo à agência noticiosa que essa meta tenha que ser adiada para meados dos anos 2040.
A FAO desejaria que a cimeira beneficiasse do impulso que parecia ter sido dado pela declaração do grupo dos países mais industrializados e ricos do mundo, o G8, que em Julho, em L"Aquila, também em Itália, se comprometeram a contribuir com 20 mil milhões de dólares em três anos para combater a fome.
Mas a ausência dos líderes desses Estados - o anfitrião Silvio Berlusconi é o único dos líderes dos países mais poderosos do mundo presente - já levou organizações de ajuda ao desenvolvimento como a Action Aid e a Oxfam a anteciparem o risco de a cimeira ser "um desperdício de tempo e dinheiro".
Um responsável dos Médicos sem Fronteiras considerou mesmo a ausência dos líderes da Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Japão e Rússia como "uma tragédia". O Presidente brasileiro, Lula da Silva, é o nome mais sonante entre os cerca de 60 chefes de Estado que se deslocaram a Roma.
O ministro francês da Agricultura, Bruno Le Maire, fez saber que o seu país considera insuficientes os termos da prevista declaração final e que estava a procurar junto dos países do G8 a concretização do compromisso de L"Aquila. E anunciou para hoje a apresentação de uma iniciativa coordenada com o Brasil para a regulação mundial dos mercados agrícolas, que permita a "estabilização de preços" e a luta "contra a predação e a especulação".
A provável falta de avanços é vista com muita preocupação pelo director-geral da FAO.
"A cada seis segundos uma criança morre de fome. Esta imensa tragédia não é apenas um atentado à moral e ao absurdo económico, mas representa também uma grave ameaça à nossa paz e à [nossa] segurança colectiva", disse Jacques Diouf.
"Recordem-se que as pessoas que têm fome são também, e com razão, as pessoas em cólera", disse Diouf, segundo a AFP.
Por incrível que pareça, o país de Luc, que falou das suas dificuldades à AFP, não é sequer daqueles em que se vivem as piores situações a nível global: 31 Estados, 20 em África e 11 na Ásia, estão em situação de grave insegurança alimentar e "precisam de ajuda urgente". Apesar das boas colheitas de cereais deste ano, os preços dos alimentos não baixaram.
A fasquia para a cimeira de Roma estava alta e o director-geral da FAO não se poupou a esforços para chamar a atenção para o problema - anteontem cumpriu um dia de greve de fome e antes apelara à subscrição, à escala mundial, de uma petição para protestar contra a fome (www.1billionhungry.org). "Cada clique será um aguilhão para que os dirigentes do mundo passem das palavras aos actos", afirmou Jacques Diouf.
Mas as últimas informações fazem recear que os resultados acabem por ser modestos. O projecto de declaração final não faz referência ao compromisso que a FAO desejava ver consagrado para erradicar a fome até 2025, nem aos 44 mil milhões de dólares de investimento anual necessários para o conseguir.
Para acabar com a fome, seria preciso aumentar a percentagem de ajuda ao desenvolvimento dedicada à agricultura dos cinco por cento actuais para 17 por cento, o que significaria um regresso aos níveis dos anos 1980, estima a organização.
Atrasar metas
O texto da cimeira, que deve ser aprovado hoje, deverá ser bem mais vago e fazer apenas referência a um "compromisso para desenvolver acções para de modo sustentado erradicar a fome o mais cedo possível", refere o projecto de declaração a que a agência Reuters teve acesso. O documento não faz qualquer menção a prazos.
Sem um maior envolvimento, um dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio - reduzir a metade a pobreza e a fome até 2015 - parece comprometido. Responsáveis das Nações Unidas admitiram mesmo à agência noticiosa que essa meta tenha que ser adiada para meados dos anos 2040.
A FAO desejaria que a cimeira beneficiasse do impulso que parecia ter sido dado pela declaração do grupo dos países mais industrializados e ricos do mundo, o G8, que em Julho, em L"Aquila, também em Itália, se comprometeram a contribuir com 20 mil milhões de dólares em três anos para combater a fome.
Mas a ausência dos líderes desses Estados - o anfitrião Silvio Berlusconi é o único dos líderes dos países mais poderosos do mundo presente - já levou organizações de ajuda ao desenvolvimento como a Action Aid e a Oxfam a anteciparem o risco de a cimeira ser "um desperdício de tempo e dinheiro".
Um responsável dos Médicos sem Fronteiras considerou mesmo a ausência dos líderes da Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Japão e Rússia como "uma tragédia". O Presidente brasileiro, Lula da Silva, é o nome mais sonante entre os cerca de 60 chefes de Estado que se deslocaram a Roma.
O ministro francês da Agricultura, Bruno Le Maire, fez saber que o seu país considera insuficientes os termos da prevista declaração final e que estava a procurar junto dos países do G8 a concretização do compromisso de L"Aquila. E anunciou para hoje a apresentação de uma iniciativa coordenada com o Brasil para a regulação mundial dos mercados agrícolas, que permita a "estabilização de preços" e a luta "contra a predação e a especulação".
A provável falta de avanços é vista com muita preocupação pelo director-geral da FAO.
"A cada seis segundos uma criança morre de fome. Esta imensa tragédia não é apenas um atentado à moral e ao absurdo económico, mas representa também uma grave ameaça à nossa paz e à [nossa] segurança colectiva", disse Jacques Diouf.
"Recordem-se que as pessoas que têm fome são também, e com razão, as pessoas em cólera", disse Diouf, segundo a AFP.
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