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terça-feira, novembro 17, 2009

Extinção

Por João Paulo Guerra

Em meados deste século XXI, por cada 100 jovens portugueses haverá 271 idosos, tal como revelam as estatísticas demográficas do INE agora divulgadas.
ISSO SIGNIFICA que a mais longo prazo os portugueses serão uma espécie em vias de extinção, tal como cerca de 20% de todos os mamíferos, mais de 30% dos anfíbios e répteis e mais de dois terços das plantas. Entretanto, enquanto vivem e definham como comunidade, os portugueses vivem mergulhados na mais drástica instabilidade social, o que também não ajuda nada à salvação da espécie. Com escassez de meios materiais de sustento e de trabalho, com salários incertos e trabalho precário, os portugueses cada vez menos têm a estabilidade que lhes permitiria constituir família, assentar na vida, construir futuro. Os portugueses não vivem: andam para aqui.

E portanto a extinção deste povo que foi glorioso, que fez história, que rasgou caminhos, que iniciou a globalização, não se deve a qualquer cataclismo daqueles que terão extinguido os grandes sáurios, mas simplesmente a décadas de políticas anti-sociais e de sacrifícios, que foi o que lhes deu a democracia, depois de décadas de miséria, obscurantismo e atraso, que foi o que lhes proporcionou a ditadura.

E não se pode argumentar que os políticos não saibam o que o povo precisa e quer. Basta cotejar os programas eleitorais com as políticas reais, para se perceber que a classe política entende uma coisa, que aliás promete, e põe em prática outra, que reduz as promessas a zero. Aliás, nem sequer se poderá acusar a classe política de apenas semear a vil tristeza e a apagada pobreza à sua volta. Qualquer sucateiro de sucesso poderá testemunhar os benefícios da arte portuguesa de bem governar.

«DE» de 12 Nov 09

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