Às vezes são quase como os «coitados» que não são padres nem freiras nem frades. São a maioria na Igreja Católica, continua a ser dada alguma atenção aos fiéis leigos, mas pouca. Alguma hierarquia da Igreja «brinca» a alguns encontros para mostrarem que eles são importantes e dão-lhes algumas migalhas. Fazem-se umas conferências para que eles tenham alguma sabedoria, formatada segundo uma determinada visão oficial, tudo bem delineado antecipadamente para não se romper o redil. O pensamento único na Igreja é uma tentação recorrente.
O esquecimento e menoridade dos leigos vem de longe, repare-se, a título de exemplo, no seu conhecido livro sobre a História da Igreja, comentando os resultados do Concílio de Trento, Daniel-Rops afirma: «É de admirar que, entre tantas sessões, não tenha havido uma que traçasse o retrato do verdadeiro cristão leigo... como se tinham traçado os do bispo e do sacerdote».
Só o Concílio Vaticano II irá repor alguma dignidade aos leigos. Mas, só passados 20 anos do Vaticano II, o Papa quis voltar-se para um tema que teve destaque no Concílio e dedicou o Sínodo dos Bispos de 1987 ao estudo de aspectos relativos aos fiéis leigos. O documento pós-sinodal, a exortação Christifideles Laici, apresenta temas dignos de estudo. Não vamos aqui analisar os temas desta exortação, está por aí e pode ser lida e estudada por quem assim o desejar.
Este assunto dos leigos na Igreja requer um estudo bastante apurado, é um tema complexo e as soluções não são fáceis de encontrar se a Igreja não abrir mão de outros temas carentes também de solução e de adaptação à realidade do nosso tempo. Ora vejamos o seguinte elenco: as questões sobre a vida em geral, nas quais incluo os temas sobre a sexualidade. A hierarquia tal como se apresenta desde os tempos medievais, cheia de títulos anacrónicos e repleta de mordomias, é, por vezes, um insulto aos fiéis leigos e de modo especial aos pobres. O celibato é um cravo que mina o trabalho vocacional. O não querer abrir mão com total transparência dos assuntos da Igreja que dizem respeito a todos, por exemplo, a economia e o património da Igreja. Os sacramentos, são sete, a humanidade masculina pode receber todos os sacramentos, mas a humanidade feminina apenas pode receber seis sacramentos, porque o sacramento da Ordem lhe está vedado. As incongruências no discurso são reveladores, muita conversa sobre a comunhão e a unidade, mas na prática, fazem-se acepção de pessoas, uns são mais do que outros. Estes aspectos são alguns entre tantos, que senão resolvidos, reduzem os fiéis leigos, a meros espectadores, bons para darem esmolas, remetidos à assembleia, porque não são «idóneos» para serem autores da construção da Igreja.
É preciso ousar e empenhar-se a fundo para que os leigos tenham espaço livre para se empenharem com verdadeira militância na vida da Igreja em todos os aspectos que fazem parte dela. Não se chegará a nada, enquanto as migalhas que são dadas aos leigos sossegarem a consciência de alguma hierarquia e que tais leigos se satisfaçam pacificamente com o pouco que lhes é dado.
O grande mal actual, é que a Igreja esteja também moribunda daquilo que enfermam as nossas sociedades. Não há militância. Poucos estão para ser interventivos e exigirem com a sua acção militante as mudanças necessárias. Neste domínio dos leigos precisamos de um verdadeiro milagre na Igreja para bem do mundo inteiro.
in: "O Banquete da palavra" (jlrodrigues.blogspot.com)
autor: P. José Luís Rodrigues
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