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sexta-feira, novembro 06, 2009

santidade para todos

" Hoje é o dia dos santos desconhecidos, ou melhor, daqueles que podemos celebrar em qualquer dia porque todos os dias são seus. Santos que nunca subirão a nenhum altar e tão felizes como aqueles que a devoção e piedade de muitos considera “melhores” intercessores ou padroeiros. Encanta-me nesta festa a espantosa surpresa que é descobrir que a santidade não é privilégio de nenhuma casta de pessoas ou prémio de vidas “bem-comportadinhas”, mas convite sempre renovado a ser inteiro. Como dizia Fernando Pessoa pela boca de Ricardo Reis: “Para ser grande, sê inteiro: nada / Teu exagera ou exclui. / Sê todo em cada coisa. Põe quanto és / No mínimo que fazes […]”. Desta inteireza de que nos falam as bem-aventuranças de Jesus; um projecto de felicidade que abre para uma vida transfigurada, já aqui, ao alcance dos olhos e das mãos.
                   Quantos desatariam a rir se eu fosse, rua adiante, perguntando: “Queres ser santo? Sabes que podes ser santo?” Até imagino alguém perguntar: “É um novo tipo de emprego? Dava jeito!” A palavra parece evocar teias de aranha, cheiro a incenso, moralismo beato, ou alienação da vida. Santidade lembra distância, separação, religiosidade, privilégio, penitência, solicitador de pedidos junto de Deus. Não tanto um emprego mas uma escolha, uma nomeação que distingue. Como tudo isto contrasta com as palavras que Jesus diz no início do Sermão da Montanha! E com o olhar transparente da Sophia no conto “Retrato de Mónica” onde descreve a recusa que Mónica teve de fazer à poesia, ao amor e à santidade, para “conquistar todo o sucesso e todos os gloriosos bens que possui”: ao contrário da poesia e do amor, oferecidas apenas algumas vezes, “a santidade é oferecida a cada pessoa de novo cada dia, e por isso aqueles que renunciam à santidade são obrigados a repetir a negação todos os dias.
                   Esta oferta quotidiana é o maior milagre e, para muitos que associam a santidade à bondade, à alegria, à confiança, a ter um coração que se compadece e um olhar que salva, a escutar como quem ama e a dizer a palavra que recria, é um milagre sempre a acontecer. Porque é a permanência de Deus em nós, o infinitamente grande na pobreza de quem é pequeno, e muito para além do peso da nossa vontade está a alegria de tudo caber nas suas mãos. Então, a santidade tem a ver com o teu e o meu lugar no mundo, com a realização cada vez melhor dos dons únicos de cada um, com a transparência de Deus em cada pessoa, e, por isso, é sempre original. Quem sabe, alguma boa “pancada” que tens pode ser o teu caminho de ser santo?! Não será possível imaginar mais bem-aventuranças?"

por: Vítor Gonçalves P.

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