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quarta-feira, junho 02, 2010

a minha sombra



A minha sombra me perturba.
Penetra-me na alma,
Escurecendo-a,
Que a minha alma é paisagem,
E é anoite a minha sombra.
Vejo a fundura
Nas superfícies,
E a superfície nos abismos,
E no plural o singular,
E Deus nos Deuses,
Não há cegueiras visionárias
Em que atingimos
A plena luz?
E o negro do passado
Se desvanece,
E o do futuro.
A nossa alma
Tem duas asas
Uma de mocho
Outra de cotovia:
Aquela, estende-se através
Do tempo que passou;
E esta, através do tempo
Que há-de vir.
O luar prateia o nosso berço,
E a aurora doira-nos o túmulo.
Túmulo e berço, luar e aurora,
Princípio e fim, quem os distingue?
Mas, nesta confusão,
Eu adivinho,
Que tenho, em vida, a eternidade
E o infinito...
Teixeira de Pascoaes
Últimos Versos (1953)
Imagem (C) Homenagem a Pascoaes,
pintura de Mário Cesariny

2 comentários:

  1. Esta é uma página...Belissima!!
    A escolha da poesia e do poeta... a pintura de Mário Cesariny... revelam a tua sensibilidade e bom gosto!
    Parabens!
    Conheço Porto Moniz... e num circuito que fiz pela Ilha toda...foi dos sítios mais bonitos que visitei e que nnunca esqueci.
    Beijocas
    Graça

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  2. Outro grande poeta!
    Foi muito bom reler este poema.
    Obrigada, amiga!

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