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sexta-feira, novembro 26, 2010

YOU ARE WELCOME TO ELSINORE



Entre nós e as palavras há metal fundente
entre nós e as palavras há hélices que andam
e podem dar-nos morte violar-nos tirar
do mais fundo de nós o mais útil segredo
entre nós e as palavras há perfis ardentes
espaços cheios de gente de costas
altas flores venenosas portas por abrir
e escadas e ponteiros e crianças sentadas
à espera do seu tempo e do seu precipício

Ao longo da muralha que habitamos
há palavras de vida há palavras de morte
há palavras imensas, que esperam por nós
e outras, frágeis, que deixaram de esperar
há palavras acesas como barcos
e há palavras homens, palavras que guardam
o seu segredo e a sua posição

Entre nós e as palavras, surdamente,
as mãos e as paredes de Elsenor
E há palavras nocturnas palavras gemidos
palavras que nos sobem ilegíveis à boca
palavras diamantes palavras nunca escritas
palavras impossíveis de escrever
por não termos connosco cordas de violinos
nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar
e os braços dos amantes escrevem muito alto
muito além do azul onde oxidados morrem
palavras maternais só sombra só soluço
só espasmo só amor só solidão desfeita

Entre nós e as palavras, os emparedados
e entre nós e as palavras, o nosso dever falar
 

MÁRIO CESARINY DE VASCONCELOS 
(09/08/1923-26-11-2006) 
auto retrato do Autor feito pelo Autor

1 comentário:

  1. As palavras de vida que cada momento, cada sinal, cada objecto, cada pessoa e cada língua pronuncia. Podiam ser sempre de vida e não de morte, de amor e não de ódio, de paz e não de guerra, de esperança e não de tristeza, de afecto e não de brutalidade... Que as verdadeiras palavras sempre nos levem a contruir para a felicidade. É isso que o texto me suscita. Obrigado pela beleza desta invocação, Mário Cesariny.

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