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sábado, outubro 31, 2009

o próximo livro de Saramago?

O Prémio Nobel da Literatura 1998 falava na sessão de apresentação do seu mais recente romance, "Caim", realizada, ontem ao fim da tarde, no grande auditório da Culturgest, onde foi recebido de pé e com uma salva de palmas por uma sala cheia.  

"Todos aqueles que me conhecem bem sabem que sempre me tenho interrogado: porque é que nunca houve uma greve numa fábrica de armas? Nunca... Serão aqueles operários menos conscientes?", inquiriu.

Procurou durante algum tempo, sem êxito, um episódio que pensava ter lido em "L'Espoir", de Malraux, ou em "Por Quem os Sinos Dobram", de Hemingway, passado na Guerra Civil de Espanha, sobre "um morteiro que não rebentou e que tinha um papel dentro, escrito, em português, que dizia: 'Esta bomba não rebentará'".

É esse o impulso inicial da história do seu próximo livro: "que uma classe operária tão capaz de lutas não tenha conseguido entrar nos portões de uma fábrica de armas".

"Faz-se o que se pode contra a droga, faz-se o que se pode contra a gripe A... e o que é que se faz contra o comércio de armas? Nada", observou.

"Assim como Deus não é de fiar, os exércitos também não. O cidadão deve exercer a sua parte de vigilante e não se deixar levar pela banda de música ou pelo seu porta-estandarte", defendeu.

Saramago admitiu, em seguida, que gostaria de ter escrito "um livro a que pudesse chamar 'O Livro do Desassossego' mas já está, o Fernando Pessoa antecipou-se".

Mas - prosseguiu - "o meu desassossego não é exactamente o dele: como eu não vivo desassossegado, quero desassossegar".

Depois, citou um verso de Camões, que diz "Estavas linda, Inês, posta em sossego" e interrogou-se: "O que é isso de 'posta em sossego'? Quer dizer, cortaram-lhe o pescoço, ficou 'posta em sossego'!" - a plateia deu gargalhadas e aplaudiu de pé, novamente.
in: SIC notícias/Lusa





amanhã é dia de PÃO POR DEUS

Amanhã é dia de Pão por Deus e não de "tricks & treats"!

Amanhã de manhã, há crianças que nas aldeias, vilas e em alguns bairros das cidades agarram em saquinhos de pano e vão pedir o "pão por Deus" aos vizinhos e amigos. Nos seus sacos vão cair nozes, castanhas, beijinhos (aqueles bolinhos cheios de açúcar), chocolates, rebuçados, mas também uma prenda dos padrinhos. O "pão por Deus" é uma tradição portuguesa e é uma pena que jardins-de-infância e escolas o substituam pelo Halloween, abóboras, chapéus de bruxas, aranhas e afins... Em vez do disfarce de bruxa, pegue num velho saco de pão, encha-se de coragem e vá ao "pão por Deus" com as crianças!

Seria injusto não haver Deus

por Anselmo Borges - DN, hoje 

As nossas sociedades científico-técnicas, comandadas pe-la razão instrumental, pelo progresso, o êxito e o consumo, hedonistas, nas quais a fé se obnubilou, são as primeiras da História a fazer da morte tabu. Este tabu, acompanhado da perda da fé no Além e da eternidade, é essencial para o entendimento do que se passa. Porque já não há eternidade, o tempo não faz texto, ficando reduzido a instantes que se devoram. Como pode então ainda haver valores e futuro num tempo que se dissolve na voragem de instantes?

De qualquer modo, estas nossas sociedades permitem a visita dos mortos dois dias por ano: 1 e 2 de Novembro. Os cemitérios enchem-se e, de forma mais ou menos explícita e funda, num silêncio ao mesmo tempo vazio e opaco, plúmbeo, há o confronto com a ultimidade, aí onde verdadeiramente se é Homem. Afinal, qual é o sentido da existência e de tudo? O que vale verdadeiramente? M. Heidegger chamou a atenção para isso: a diferença entre a existência autêntica e a existência inautêntica dá-se nesse confronto. Se tudo decorre na banalidade rasante e na gritaria oca, a explicação está aqui: no último tabu.
Para onde vão os mortos? Para o Silêncio. O mistério da morte é esse: dizemos que partiram, mas o que abala é não deixarem endereço. Na morte, a evidência é o cadáver. Mas quem se contenta com o cadáver? Por isso, a morte é o impensável que obriga a pensar e, enquanto formos mortais, havemos de perguntar por Deus.
Deus não é "objecto" de ciência, mas uma esperança, sobretudo quando se pensa nas vítimas inocentes. Como escreveu o agnóstico M. Horkheimer, um dos fundadores da Escola Crítica de Frankfurt, "se tivesse de descrever a razão por que Kant se manteve na fé em Deus, não saberia encontrar melhor referência do que aquele passo de Victor Hugo: uma anciã caminha pela rua. Ela cuidou dos filhos e colheu ingratidão; trabalhou e vive na miséria; amou e vive na solidão. E no entanto está longe de qualquer ódio e rancor, e ajuda onde pode... Alguém vê-a caminhar e diz: Ça doit avoir un lendemain!... Porque não foram capazes de pensar que a injustiça que atravessa a História seja definitiva, Voltaire e Kant postularam Deus - não para eles mesmos".
A curto, a médio, a longo prazo, todos foram estando mortos. A curto, a médio, a longo prazo, todos iremos, todos irão estando mortos, e lá, no final, só há uma alternativa.
Claude Lévi-Strauss conclui assim o seu L'homme nu: "Ao homem incumbe viver e lutar, pensar e crer, sobretudo conservar a coragem, sem que nunca o abandone a certeza adversa de que outrora não estava presente e que não estará sempre presente sobre a Terra e que, com o seu desaparecimento inelutável da superfície de um planeta também ele votado à morte, os seus trabalhos, os seus sofrimentos, as suas alegrias, as suas esperanças e as suas obras se tornarão como se não tivessem existido, não havendo já nenhuma consciência para preservar ao menos a lembrança desses movimentos efémeros, excepto, através de alguns traços rapidamente apagados de um mundo de rosto impassível, a constatação anulada de que existiram, isto é, nada".
A Bíblia, no último livro, Apocalipse, conclui assim: "Vi então um novo céu e uma nova terra. E vi descer do céu, de junto de Deus, a cidade santa, a nova Jerusalém. E ouvi uma voz potente que vinha do trono: 'Esta é a morada de Deus entre os homens. Ele habitará com eles; eles serão o seu povo e o próprio Deus estará com eles e será o seu Deus. Ele enxugará todas as lágrimas dos seus olhos; e não haverá mais morte, nem luto, nem pranto, nem dor. Porque as primeiras coisas passaram.'"
No meio da perplexidade, fico com Kant: "A balança do entendimento não é completamente imparcial, e um braço da mesma com o dístico 'esperança do futuro' tem uma vantagem mecânica, que faz com que mesmo razões leves, que caem no seu respectivo prato, levantem o outro braço, que contém especulações em si de maior peso. Esta é a única incorrecção que eu não posso eliminar e que eu na realidade não quero abandonar."

A perfeição


O que me tranquiliza
é que tudo o que existe,
existe com uma precisão absoluta.

O que for do tamanho de uma cabeça de alfinete
não transborda nem uma fracção de milímetro
além do tamanho de uma cabeça de alfinete.

Tudo o que existe é de uma grande exactidão.
Pena é que a maior parte do que existe
com essa exactidão
nos é tecnicamente invisível.

O bom é que a verdade chega a nós
como um sentido secreto das coisas.

Nós terminamos adivinhando, confusos,
a perfeição.

Clarice Lispector

sexta-feira, outubro 30, 2009

Saramago, a fé e a liberdade

A sacralização das crenças é uma forma de totalitarismo que serve de pretexto para amordaçar convicções diferentes e impor a lei do mais forte. Nos países onde funciona a democracia há quem tente os constrangimentos sociais para limitar a liberdade. 
A recente polémica em torno do último livro de José Saramago deve fazer-nos reflectir sobre a fé e a liberdade. Que a um crente seja proibido interrogar-se sobre a crença que abraçou é um direito da sua Igreja, mas cabe ao Estado laico garantir-lhe a liberdade de mudar ou, simplesmente, de a abandonar. É aqui que reside a diferença entre teocracias e democracias. A apostasia, crime gravíssimo nos estados confessionais, é um direito inalienável nos estados laicos. 
Qualquer livro sagrado é considerado como tal por alguns e, seguramente, desprezado por outros, assistindo a todos o mesmo direito. Se não se contestassem as crenças ainda hoje o Sol continuaria a girar à volta da Terra. Se não pudéssemos discutir a Tora, a Bíblia ou o Corão com que direito alguém condenaria o Mein Kampf ou o Manifesto Comunista? É tão legítimo combater uma religião, ou todas, como combater qualquer sistema político. As crenças podem e devem ser combatidas, os crentes é que merecem ser respeitados. 
Entendo, pois, que Saramago tem o direito de escrever tudo o que escreve (e quanto lhe agradeço) e de dizer tudo o que diz tal como as Igrejas têm igual direito de contradizer o que diz e escreve Saramago. Passo ao lado dos dislates de um infeliz eurodeputado que pretende definir o critério de nacionalidade em função das suas crenças. Há sempre um clone de Sousa Lara, ensandecido, à espera de cinco minutos de glória. 
A Igreja católica teve logo a solidariedade de outras, menos recomendáveis, e tem todo o direito de não gostar de Saramago e de combater as suas ideias, não tem é o direito à imunidade das tolices que prega e ao monopólio da interpretação do Antigo Testamento. Se hoje considera literatura esse livro violento da Idade do Bronze, só a partir do século XIX é que a exegese católica o começou a considerar como tal. E a liberdade religiosa só foi admitida pelo Concílio Vaticano II. 
Os judeus das trancinhas que pretendem derrubar o Muro das lamentações à cabeçada e anexar a Palestina, assim como os cristãos evangélicos, que tiveram um presidente dos EUA que falava com deus e invadiu o Iraque, exigem a leitura literal para o Antigo Testamento. 
Alguns pretensos ateus, sôfregos de bênçãos dos leitores, afirmam que a Tora, a Bíblia e o Corão só devem ser avaliados pelos descrentes como obras literárias, à semelhança da Ilíada, Odisseia ou das obras de Shakespeare. Acontece que nenhum destes livros serviu para justificar cruzadas, guerras, tribunais do Santo Ofício ou códigos de conduta. 
Não se conhece uma só morte provocada por um fanático para convencer um céptico do dogma do cavalo de Tróia.
Ponte Europa / Sorumbático (C.Barroco Esperança)

Caravaggio pintou auto-retrato no quadro "Baco"

Caravaggio pintou o seu auto-retrato no interior do jarro de vinho visível à direita de Baco no famoso quadro do deus romano existente na Galeria dos Ofícios, em Florença.
 

Caravaggio pintou auto-retrato no quadro "Baco"

 
A descoberta foi feita por restauradores e investigadores, graças a uma sofisticada análise do quadro com instrumentos da mais avançada tecnologia.
Os resultados da investigação serão hoje comunicados ao Comité Nacional para as Celebrações do quarto centenário da morte do pintor, que se assinala em 1610.
No interior do jarro, Caravaggio pintou a silhueta de um homem, de pé, com um braço estendido.
Alguns traços do vulto são claramente distinguíveis, em particular o nariz e os olhos, sendo também visível o colarinho.
Os especialistas crêem poder hoje dizer-se que o pintor (1573-1610) fez o seu auto-retrato reflectido no jarro que tinha à sua frente e que estava a pintar.
Segundo o jornal La Stampa, há já algum tempo que se dizia que o vulto de Michelangiolo Merisi da Caravaggio deveria estar oculto num ponto qualquer do quadro, mas ninguém até hoje pudera demonstrá-lo.
Baco, um quadro a óleo com 95x85 centímetros, foi pintado por Caravaggio em 1596 e 1597 por encomenda do cardeal Del Monte para o oferecer a Fernando I de Medici, por ocasião do casamento do filho Cosimo II.

Mosquitos são atraídos por odor humano

Os cientistas da Universidade da Califórnia descobriram a razão pela qual os mosquitos se alimentam de sangue humano: o odor natural libertado pelo homem e pelas aves é um poderoso factor de atracção. O cheiro tem uma forte presença de um um semiquímico denominado "nonanal", que é facilmente detectado pelos mosquitos. "As suas antenas são altamente desenvolvidas para detectar concentrações de nonanal", explicou o investigador Walter Leal.

Principais portadores do vírus do Nilo Ocidental, os mosquitos transmitem doenças aos seres humanos e a alguns animais. Desde 1999, o Center for Disease Control and Prevention registou 29 397 casos em seres humanos e 1147 mortes nos EUA.

O grupo de investigadores realizou uma colheita a partir de 16 pessoas, de diferentes grupos étnicos, testando centenas de compostos naturais emitidos por aves e seres humanos. "Conseguimos determinar a especificidade dos receptores olfactivos dos mosquitos face a compostos isolados", salientou o investigador Zain Syed. Durante a pesquisa, o grupo de cientistas conseguiu perceber que os mosquitos eram mais atraídos por armadilhas que continham nonanal. Também o dióxido de carbono funciona como factor de atracção. Quando o ser humano conjuga os dois elementos, transforma-se num apetecível isco para os mosquitos, explicam os investigadores, acrescentando que este trabalho pode representar um importante passo no combate à propagação de vírus.

in: jornal i

"O gigante egoísta"



Todas as tardes, ao regressar da escola, costumavam as crianças ir brincar no jardim do Gigante

Era um jardim amplo e belo, com um macio e verde relvado. Aqui e ali, por sobre a relva erguiam-se lindas flores como estrelas e havia doze pessegueiros que na primavera floresciam em delicados botões cor-de-rosa e pérola, e no outono davam saborosos frutos. Os pássaros pousavam nas árvores e cantavam tão suavemente que as crianças costumavam parar seus brinquedos, a fim de ouvi-los. “Como somos felizes aqui!”, gritavam uns para os outros. Um dia o Gigante voltou. Tinha ido visitar seu amigo o Ogre de Cornualha e ali vivera com ele durante sete anos. Passados os sete anos, dissera tudo quanto tinha a dizer, pois sua conversa era limitada, e decidiu voltar para seu castelo. Ao chegar, viu as crianças brincando no jardim. — Que estão vocês fazendo aqui? — gritou ele, com voz bastante ríspida e as crianças puseram-se em fuga. — Meu jardim é meu jardim — disse o Gigante —. Todos devem entender isto e não consentirei que nenhuma outra pessoa, senão eu, brinque nele. Construiu um alto muro cercando-o e pôs nele um cartaz: É PROIBIDA A ENTRADA. OS TRANSGRESSORES SERÃO PROCESSADOS Era um Gigante muito egoísta. As pobres crianças não tinham agora lugar onde brincar. Tentaram brincar na estrada, mas a estrada tinha muita poeira e estava cheia de pedras duras, e isto não lhes agradou. Tomaram o costume de vaguear, terminadas as lições, em redor dos altos muros, conversando a respeito do belo jardim por eles cercados. “Como éramos felizes ali!” diziam uns aos outros. Depois chegou a primavera e por todo o país havia passarinhos e florinhas. Somente no jardim do Gigante Egoísta reinava ainda o inverno. Os pássaros, uma vez que não havia meninos, não cuidavam de cantar nele e as árvores esqueciam-se de florescer. Somente uma bela flor apontou a cabeça dentre a relva, mas quando viu o cartaz, ficou tão triste por causa das crianças que se deixou cair de novo no chão, voltando a dormir. Os únicos que se alegraram foram a Neve e a Geada. — A primavera esqueceu-se deste jardim — exclamaram —. de modo que viveremos aqui durante o ano inteiro. A Neve cobriu a relva com seu grande manto branco e o Gelo pintou todas as árvores de prata. Então convidaram o Vento Norte para ficar com eles e o vento veio. Estava envolto em peles e bramava o dia inteiro no jardim, derrubando chaminés. — Este lugar é delicioso — dizia ele —. Devemos convidar o Granizo a fazer-nos uma visita. De modo que o Granizo veio. Todos os dias, durante três horas, rufava no telhado do castelo, até que quebrou a maior parte das ardósias, e depois punha-se a dar voltas loucas no jardim, o mais depressa que podia. Trajava de cinzento e seu hálito era frio como gelo. — Não posso compreender por que a Primavera está demorando tanto a chegar — disse o Gigante Egoísta, ao sentar-se à janela e olhar para fora, para seu jardim frio e branco —. Espero que haja uma mudança de tempo. Mas a Primavera nunca chegou, nem tampouco o Verão. O Outono deu frutos áureos a todos os jardins, mas ao jardim do Gigante não deu nenhum. — É demasiado egoísta — disse ele. De modo que havia sempre Inverno ali e o Vento Norte, e o Granizo, e a Geada e a Neve dançavam por entre as árvores. Uma manhã jazia o Gigante acordado em sua casa, quando ouviu uma música deliciosa. Soava tão docemente a seus ouvidos que pensou que deviam ser os músicos do Rei que iam passando. Era na realidade apenas um pequeno pintarroxo que cantava do lado de fora de sua janela, mas já fazia tanto tempo que não ouvia ele um pássaro cantar em seu jardim que lhe pareceu aquela a mais bela música do mundo. Então o Granizo parou de bailar por cima da cabeça dele, o Vento Norte cessou seu rugido e delicioso perfume chegou até ele pela janela aberta. — Creio que chegou por fim a Primavera — disse o Gigante, saltando da cama e olhando para fora. Que viu ele? Viu um espetáculo maravilhoso. Por um buraco feito no muro, as crianças tinham-se introduzido no jardim, encarapitando-se nas árvores. Em todas as árvores que conseguia ver achava-se uma criancinha. E as árvores sentiam-se tão contentes por ver as crianças de volta que se haviam coberto de botões e agitavam seus galhos gentilmente por cima das cabeças das crianças. Os pássaros revoluteavam e chilreavam, com deleite, e as flores riam, apontando as cabeças por entre a relva. Era um belo quadro. Apenas em um canto ainda havia inverno. Era o canto mais afastado do jardim e nele se encontrava um menininho. Era tão pequeno que não podia alcançar os galhos da árvore e vagava em redor, chorando amargamente. A pobre árvore estava ainda coberta de geada e neve e o Vento Norte soprava e rugia por cima dela. — Sobe, menino! — dizia a Árvore, inclinando seus ramos o mais baixo que podia. Mas o menino era demasiado pequenino. E ao contemplar o Gigante aquela cena seu coração enterneceu-se. — Como tenho sido egoísta — disse. Agora estou sabendo por que a Primavera não vinha cá. Vou colocar aquele pobre menininho no alto da árvore e depois derrubarei o muro e meu jardim será para todo o sempre o lugar de brinquedo para os meninos. Sentia-se deveras muito triste pelo que tinha feito. De modo que desceu as escadas e abriu a porta de entrada bem devagarinho, saindo para o jardim. Mas quando as crianças o viram, ficaram tão atemorizadas que saíram todas a correr e o jardim voltou a ser como no inverno. Somente o menininho não correu, pois seus olhos estavam tão cheios de lágrimas que não viram o Gigante chegar. E o Gigante deslizou por trás dele, apanhou-o delicadamente com a mão e colocou-o no alto da árvore. E a árvore imediatamente abriu-se em flor e os pássaros chegaram e cantaram nela pousados e o menininho estendeu seus dois braços, cercou com eles o pescoço do Gigante e beijou-o. E as outras crianças, quando viram que o Gigante já não era mau, voltaram correndo e com eles veio também a Primavera. — O jardim agora é de vocês, criancinhas — disse o Gigante, que pegou um grande machado e derrubou o muro. E quando as pessoas iam passando para a feira ao meio-dia, encontraram o Gigante a brincar com as crianças no mais belo jardim que jamais haviam visto. Brincaram o dia inteiro e à noitinha dirigiram-se ao Gigante para despedir-se. — Mas onde está o companheirinho de vocês? — perguntou —. O menino que eu pus na árvore? O Gigante gostava mais dele porque o havia beijado. — Não sabemos — responderam as crianças —. Foi-se embora. — Devem dizer-lhe que não deixe de vir amanhã — disse o Gigante. Mas as crianças responderam-lhe que não sabiam onde ele morava e nunca o tinham visto antes. E o Gigante sentiu-se muito triste. Todas as tardes, quando as aulas terminavam, as crianças chegavam para brincar com o Gigante. Mas o menininho de quem o Gigante gostava nunca mais foi visto de novo. O Gigante mostrava-se muito bondoso para com todas as crianças, contudo tinha saudades do seu primeiro amiguinho e muitas vezes a ele se referia. — Como gostaria de vê-lo! — costumava dizer. Os anos se passaram e o Gigante foi ficando muito velho e fraco. Não podia mais tomar parte nos brinquedos, de modo que se sentava numa grande cadeira de braços e contemplava o brinquedo das crianças e admirava seu jardim. — Tenho belas flores em quantidade — dizia ele , mas as crianças são as mais belas flores de todas. Numa manhã de inverno, olhou de sua janela, enquanto se vestia. Não odiava o Inverno agora, pois sabia que era apenas a Primavera adormecida e que as flores estavam descansando. De repente, esfregou os olhos, maravilhado, e olhou e tornou a olhar. Era realmente uma visão maravilhosa. No canto mais afastado do jardim via-se uma arvore toda coberta de alvas e belas flores. Seus ramos eram cor de ouro e frutos prateados pendiam deles e por baixo estava o menininho que ele amara. O Gigante desceu as escadas a correr, com grande alegria, e saiu para o jardim. Atravessou correndo o gramado e aproximou-se da criança. E quando chegou bem perto dela, seu rosto ficou vermelho de cólera e perguntou. — Quem ousou ferir-te? Pois nas palmas das mãos da criança viam-se as marcas de dois cravos e as marcas de dois cravos nos pequeninos pés. — Quem ousou ferir-te? — gritou o Gigante —. Dize-me, para que eu possa tirar minha grande espada e matá-lo. — Não — respondeu o menino —. São estas as feridas do Amor. — Quem és? — perguntou o Gigante, sentindo-se tomado dum grande respeito e ajoelhando-se diante do menininho. E o menino sorriu para o Gigante e disse: — Tu me deixaste brincar uma vez em teu jardim, hoje virás comigo para o meu jardim, que é o Paraíso. E quando as crianças chegaram correndo naquela tarde, encontraram o Gigante morto sob a árvore toda coberta de alvas flores.


Oscar Wilde
in: net.br

quinta-feira, outubro 29, 2009

Fernando Pessoa - Inédito



Passeavam um dia juntos
um christão e um catholico.
Disse de repente o catholico para o seu inimigo, “Meu
amigo, creio que estamos de accordo”. E o outro não
disse nada, porque todas as nações que fallaram concordaram
em que o silencio é de ouro.
E então o catholico começou:
– Concorda, não é verdade, em que a verdadeira Egreja
é aquella que se firma no rochedo de Pedro?”
E o outro respondeu, “Não concordo”.
– Concorda, não é verdade, em que a verdadeira Egreja
é aquella que se firma na mais antiga tradição?”
E o outro respondeu, “Não, não concordo”.
– Concorda, não é verdade, em que a verdadeira Egreja
é aquella que reune os mysticos e os soldados, os ascetas
e os grandes
peccadores?”
E o outro respondeu, “Não posso concordar”.
– Concorda, não é verdade, em que a verdadeira Egreja
é a Egreja de Christo?
E o outro respondeu, “Sim, talvez, não sei se concordo”.
– Concorda, não é verdade, em que a verdadeira Egreja
é a que quere o bem da humanidade?
E o outro respondeu, “Com reservas, concordo”.
– Concorda, não é verdade, em que a verdadeira Egreja
é a que fôr a verdadeira Egreja?”
E o outro respondeu, “É claro que concordo”.
– Se estamos, pois, de accordo”, disse o catholico,
“vamos jantar junctos”.
Assim fizeram, e como o catholico não ficasse offendido
e doesse ao christão a possibilidade de o haver offendido,
foi o catholico que comeu com vontade e o christão
que por sua vontade pagou a conta.


1 -Inéditos de Pessoa

edição nº 150 do jornal i – 28 Outubro 2009

Noddy - mais velho do que eu...

Criado em 1949, o Noddy faz 60 anos este mês e anima e transmite valores universais às crianças em Portugal desde 1963.
Um carrinho amarelo e um chapéu azul com um sininho que têm já 60 anos. Criado por Enid Blyton, os desenhos animados Noddy têm personagens coloridas e histórias simples.
“Abram alas para o Noddy” tem já seis décadas de aventuras para contar, desde a televisão aos livros, dos bonecos aos toques de telemóveis e waitingrings (toques melódicos de espera).

o mundo de Ratzinger


No New York Times, Ross Douthat escreve que a Igreja Anglicana sobreviveu à Armada Espanhola, à guerra civil inglesa de 1649, entre os partidários de Carlos I e o Parlamento liderado por Oliver Cromwell, e a Elton John a cantar “Candle in the Wind” na Abadia de Westminster, durante o funeral da Princesa Diana; neste contexto, provavelmente também irá sobreviver à comunicado do Vaticano a convidar os anglicanos descontentes a juntarem-se à Igreja de Roma.
Para Douthat, Joseph Ratzinger — que ele considera um homem pragmático e que entende bem a era em que vive –  tem em mente algo mais do que o problema secular da desunião da família cristã e que o faz colocar de lado as diferenças entre católicos e anglicanos: o continuo crescimento do Islão no mundo e o conflito deste com o Cristianismo:
[I]n making the opening to Anglicanism, Benedict also may have a deeper conflict in mind — not the parochial Western struggle between conservative and liberal believers, but Christianity’s global encounter with a resurgent Islam.
Here Catholicism and Anglicanism share two fronts. In Europe, both are weakened players, caught between a secular majority and an expanding Muslim population. In Africa, increasingly the real heart of the Anglican Communion, both are facing an entrenched Islamic presence across a fault line running from Nigeria to Sudan.
Where the European encounter is concerned, Pope Benedict has opted for public confrontation. In a controversial 2006 address in Regensburg, Germany, he explicitly challenged Islam’s compatibility with the Western way of reason — and sparked, as if in vindication of his point, a wave of Muslim riots around the world.
By contrast, the Church of England’s leadership has opted for conciliation (some would say appeasement), with the Archbishop of Canterbury going so far as to speculate about the inevitability of some kind of sharia law in Britain.
There are an awful lot of Anglicans, in England and Africa alike, who would prefer a leader who takes Benedict’s approach to the Islamic challenge. Now they can have one, if they want him.
This could be the real significance of last week’s invitation. What’s being interpreted, for now, as an intra-Christian skirmish may eventually be remembered as the first step toward a united Anglican-Catholic front — not against liberalism or atheism, but against Christianity’s most enduring and impressive foe. (in net)

foto Família:Avó, Tios, Primos Lisboa 18 outº


OQUESTRADA "Oxalá te veja" (nova música portuguesa)

29 Outubro 1959 / 29 Outubro 2009 - foto de família

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quarta-feira, outubro 28, 2009

Fábula: diálogo de um católico com um cristão em 1932. O primeiro de uma série de textos inéditos de Fernando Pessoa

Felizmente, o espólio de Fernando Pessoa foi declarado bem de interesse nacional e tesouro nacional (Diário da República, de 14 de Setembro de 2009); felizmente, porque foi um reconhecimento da sua valia e uma medida de protecção. O que pode parecer paradoxal é que foi designado como tesouro nacional antes de estarem publicados ou devidamente inventariados todos os escritos do espólio. Hoje ainda não se conhecem milhares deles, que é de prever que se comecem a divulgar a um ritmo mais acelerado em 2010, quando o espólio pessoano ficar disponível em linha.
O texto que pode consultar a partir da barra lateral do site e os que se lhe seguirão constituem uma espécie de antecipação dessa realidade virtual que facilitará a consulta de mais de 30 mil papéis e 1200 livros. O texto foi dactilografado numa folha que o Ministério da Cultura adquiriu a 13 de Novembro de 2008, "com o generoso patrocínio da REN - Redes Energéticas Nacionais, SGPS, S.A.", num leilão em que se arremataram 70 lotes. Trata-se do diálogo entre um cristão e um católico e está encimado pela indicação «Fab. N. J.» («Fábulas para as Nações Jovens»), título de um conjunto de trechos tardios que Henrique Chaves revelou parcialmente em "Pessoa Inédito" (1993) e que Zetho Cunha Gonçalves reeditou em "Contos, Fábulas & outras ficções" (2008). Estas fábulas de carácter político - muito diferentes da única fábula que Pessoa publicou em vida, em 1915 - serão de cerca de 1932.
Na transcrição do diálogo faltam umas linhas finais (intituladas "Moralidade"), acrescentadas pelo autor com a mesma caneta preta que utilizou para introduzir alterações no texto. Creio ler as palavras "pergunta" e "resposta", tal como o nome "Lope de Vega", mas a decifração actual não permite perceber o conceito ou intuito das últimas linhas. Talvez o leitor nos ajude. É que estes textos são pessoanos por terem sido escritos por Pessoa, mas também por terem sido estabelecidos colectivamente. São pessoanos no sentido mais lato do termo. Devo a José Barreto a leitura de uma letra "e" depois de "offendido" (cf. "como o catholico não ficasse offendido"), que me obrigou a rever a minha reconstrução conjectural do parágrafo que começa "Assim fizeram".

chama-se a isto...."poncha familiar"














e foi mesmo! Começamos na "poncha" e acabamos na "poncha" mas no dia seguinte...

azahar, os primeiros momentos em Portugal

Azahar, o primeiro de 16 linces-ibéricos que vão chegar a Portugal até ao final de Novembro, vindos de Espanha, inaugurou ontem à tarde o Centro Nacional de Reprodução em Cativeiro para o Lince-Ibérico, em Silves, depois de uma viagem de quatro horas. Pouco tempo depois de ter chegado, começou a explorar a sua nova casa.

Revista sobre música "Blitz" celebra 25 anos com edição de coleccionador dedicada à música portuguesa


A revista "Blitz" celebra, sexta-feira, 25 anos com uma edição especial de colecção dedicada à música portuguesa, que inclui uma selecção dos melhores álbuns desde 1960, entrevistas com Mariza e David Fonseca e ainda um CD de oferta.

Representante da República está farto da Madeira (leia-se Ma-ma-deira)


Frustrado e impotente para agir perante situações como os confrontos e polémicas verbais registados nas recentes campanhas eleitorais, o representante da República para a Madeira, Monteiro Diniz, está farto e garante que bate com a porta em 2011. Na Madeira desde 1997, primeiro como ministro da República e, depois da Revisão Constitucional de 2004, como representante, confessa que é "extremamente penoso" ser acusado de assistir "impávido e sereno" a determinadas ocorrências, quando na verdade não tem competências para actuar.
Monteiro Diniz fala da "personalidade de algumas pessoas" para explicar as cenas que ocorrem na Assembleia da Madeira, como os casos da bandeira nazi, a expulsão de deputados, a troca de insultos, a violência e as relações crispadas. "Muitas das afirmações que são produzidas aqui eu não as faria, porque entendo que a crítica política pode ser virulenta, mas há limites".
"Depois da revisão constitucional fiquei circunscrito à actuação do sistema legislativo e a uma magistratura de influência", diz o juiz-conselheiro, acrescentando que este é um cargo "solitário", que foi "despojado" de competências. "Em duas ocasiões manifestei a minha vontade de abandonar o exercício das funções, mas agora quando o Presidente terminar o mandato, está completamente fora de questão que eu continue".
Ministro da República para a Região Autónoma, Monteiro Dinis e Alberto João Jardim
Ministro da República para a Região Autónoma, Monteiro Dinis e Alberto João Jardim
Ana Baião
"Sinto um certo desconforto quando as pessoas dizem que a República não actua nem corrige, mas isso acontece porque não tem poderes para isso, já que o sistema autonómico não o permite", afirmou, lembrando que o Presidente da República tem menos poderes em relação ao parlamento regional que detém na Assembleia da República. "Quando me perguntam como se pode alterar esta situação, eu repondo: só há uma entidade que pode alterar esta situação, que é o eleitorado da Madeira".
Monteiro Diniz garante que as eleições na região são "verdadeiramente genuínas". "O problema é o eleitorado da Madeira, que deu maiorias absolutas a um partido durante estes anos todos, esse é o problema".
Texto publicado na edição do Expresso de 24 de Outubro de 2009
 NOTA DA REDACÇÃO - GRANDE ADMIRAÇÃO! DEPOIS DE TANTOS ENXOVALHOS, DO "ÚNICO IMPORTANTE" CHAMAR MARICAS ÀS FORÇAS ARMADAS PORTUGUESAS, FASCISTA AO GOVERNO E OUTROS PALAVRÕES QUE AQUI NÃO ME ATREVO A REPETIR POR SE TRATAR DE UM BLOG SÉRIO E PARA BOAS FAMÍLIAS, QUEM NÃO ESTARIA FARTO! ESTOU CONSIGO DR. MONTEIRO DINIZ, JÁ NÃO HÁ PACHORRA PARA ATURAR TANTA INCOMPETÊNCIA, DESEDUCAÇÃO E CANALHICE.

Quando forem às compras prestem atenção a estes conselhos...

   
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Numa embalagem de sabonete Dove:
"Indicações: utilizar como sabonete normal"
(Boa! Cabe a cada um imaginar para que serve um sabonete anormal!)



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Em algumas refeições congeladas de Iglo:
"Sugestão de apresentação: Descongelar"
(É só sugestão! Agora façam dela o que quiserem!)



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Na sobremesa Tiramisu, da Tesco, lê-se na parte de baixo da embalagem:
"Não inverter a embalagem"
(Opá... fuuudeu!)



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No pudim da marca Minipreço:
"Atenção: o pudim estará quente depois de aquecido"
(Onde estariamos nós sem os senhores do Minipreço para nos guiarem)




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Numa embalagem de tábua de engomar da Rowenta:
"Não engomar a roupa no corpo."
(Sim, há gente pra tudo)


 


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Num medicamento da Boots para o catarro infantil:
"Não conduza automóveis nem maneje maquinaria pesada depois de tomar este medicamento"
(Andamos a ler muito "Os Cinco", o "Clube das Chaves", "Uma Aventura...", não andamos?)


 


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Nas pastilhas para dormir da Nytol:
"Advertência: pode causar sonolência!"
(Pode, não... deve!)


 


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Numa embalagem de luzes de Natal:
"Usar apenas no interior ou no exterior"
(Eu agradecia imenso que alguém me dissesse qual seria a terceira opção)


 


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Nos pacotes de amendoins da Matutano:
"Aviso: contém amendoins"
(Ai pá, mania de estragarem as surpresas!)


 


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Numa embalagem de serra eléctrica da marca sueca Husqvarna:
"Não tente deter a serra com as mãos ou os genitais"
(Definitivamente, coisas estranhas acontecem na Suécia)


 


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No iPod Shuffle, da Apple:
"Não comer"
(Oh! Agora faço o quê com isto?)


 


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Nos pacote de nozes para os passageiros na American Airlines:
"Instruções: abra o pacote, coma as nozes"
(E arrotar depois, será que posso? Agora não sei se posso)


Há coisas fantásticas, não há?

"a presença mais pura"


Nada no mundo mais próximo
mas aqueles a quem negamos a palavra
o amor, certas enfermidades, a presença mais pura
ouve o que diz a mulher vestida de sol
quando caminha no cimo das árvores
"a que distância da língua comum deixaste
o teu coração?"

a altura desesperada do azul
no teu retrato de adolescente há centenas de anos
a extinção dos lírios no jardim municipal
o mar desta baía em ruínas ou se quiseres
os sacos do supermercado que se expandem nas gavetas
as conversas ainda surpreendentemente escolares
soletradas em família
a fadiga da corrida domingueira pela mata
as senhas da lavandaria com um "não esquecer" fixado
o terror que temos
de certos encontros de acaso
porque deixamos de saber dos outros
coisas tão elementares
o próprio nome

ouve o que diz a mulher vestida de sol
quando caminha no cimo das árvores
"a que distancia deixaste
o coração?"

José Tolentino Mendonça

Hoje apetece-me...Sinatra

terça-feira, outubro 27, 2009

alerta da GreenPeace



canivete suiço para senhoras


Poema em linha recta


Nunca conheci quem tivesse levado porrada. Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cómico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...


Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e erróneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que tenho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

Álvaro de Campos

segunda-feira, outubro 26, 2009

saber comunicar é importante


'Dizem que havia um cego sentado numa calçada, em Paris, com um boné a seus pés e um pedaço de madeira que, escrito com giz branco, dizia: "Por favor, ajude-me, sou cego".
Um publicitário, da área de criação, que passava em frente a ele, parou e viu umas poucas de moedas no boné. Sem pedir licença, pegou no cartaz, virou-o, pegou no giz e escreveu outro anúncio. Voltou a colocar o pedaço de madeira aos pés do cego e foi-se embora. Pela tarde, o publicitário voltou a passar em frente ao cego que pedia esmola. Agora, o seu boné estava cheio de notas e moedas.
O cego reconheceu as pisadas e perguntou-lhe se tinha sido ele quem reescreveu o seu cartaz, sobretudo querendo saber o que lá estava escrito.
O publicitário respondeu: "Nada que não esteja de acordo com o seu anúncio, mas com outras palavras". Sorriu e continuou seu caminho. O cego nunca soube, mas o seu novo cartaz dizia: "Hoje é Primavera em Paris e eu não posso vê-la".'
in: net

e já lá vão 38 anos...






















Sim, já lá vão 38 anos (feitos em Junho passado) que eu descobri a Madeira. Uma Ilha afável, com identidades muito próprias, muito verde e muito azul, que eu fiz questão de estudar e conhecer porque a isso me obrigava a minha profissão de então, o turismo, e a minha maneira de ser.
Passados estes anos eu ainda conservo e uso os mesmos óculos escuros (que os meus filhos em pequenos diziam ser os óculos da Abelha Maia...) as mesmas feições acentuadas pela expressão da sabedoria do tempo, a ânsia do sonho, os horizontes ilimitados, enfim...cresci e envelheci!
E a Madeira que conserva? Não tem "óculos", nem claros nem escuros, que possam tapar a acentuada cimentização e desordenamento da paisagem, os verdes naturais foram pavimentados, calcetados,algumas das orlas de areia preta estão tapadas com areia amarela vinda de Marrocos que custa balúrdios e que o mar leva e não traz, quando quer. Como um queijo, túneis esventram buracos no corpo da Ilha permitindo acessibilidade rápida é certo, mas desviando das estradas regionais (muitas hoje fechadas ao trânsito) o turismo e até os saudosos dos verdes e azuis. Continuo fiel à minha Lisboa -hoje tão diferente, já-, amando contudo esta terra de gentes acolhedoras, onde nasceram o marido e os filhos, e lamentando "aquilo" em que se transformou a mentalidade madeirense no geral, seguindo as pegadas de um imbecil e louco!

"Deus escreve direito..."


Deus escreve direito por linhas tortas
E a vida não vive em linha recta

Em cada célula do homem estão inscritas

A cor dos olhos e a argúcia do olhar

O desenho dos ossos e o contorno da boca
Por isso te olhas ao espelho:

E no espelho te buscas para te reconhecer

Porém em cada célula desde o início

Foi inscrito o signo veemente da tua liberdade
Pois foste criado e tens de ser real
Por isso não percas nunca teu fervor mais austero
Tua exigência de ti por entre
Espelhos deformantes e desastres e desvios
Nem um momento só podes perder
A linha musical do encantamento

Que é teu sol tua luz teu alimento.


Sophia de Mello Breyner Andresen - Deus escreve direito

domingo, outubro 25, 2009

Malawi, berço da humanidade?

Foram encontrados em Karonga ferramentas pré-históricas e restos de hominídeos

A última descoberta de ferramentas pré-históricas e restos de hominídeos no remoto distrito de Karonga, no Malawi, oferece novas provas de que esta área pode ser o berço da humanidade, disse um especialista alemão à Reuters.
O professor alemão Friedemann Schrenk, da Universidade de Goethe, em Frankfurt, revelou que dois estudantes a trabalhar no local de escavação descobriram, no mês passado, instrumentos pré-históricos e um dente de um hominídeo.

"A última descoberta oferece provas adicionais à teoria de que o Vale do Rift em África e talvez o local de escavação perto de Karonga podem ser considerados o berço da humanidade", afirmou Shcrenk.
Um hominídeo é um membro da família dos primatas que inclui os humanos e os seus antecessores pré-históricos. A descoberta foi feita em Malema, a dez quilómetros de Karonga. O local da escavação inclui ainda restos dos primeiros dinossauros que viveram no período entre 100 milhões e 140 milhões de anos, e dos primeiros hominídeos que terão vivido no espaço entre um e seis milhões de anos.
Schrenk está a liderar uma equipa de investigadores europeus e africanos que quer estabelecer um centro em África para o estudo interdisciplinar da evolução dos mamíferos e dos hominídeos.

Família Góis (junta cinco anos depois....)


What a wonderful world - Stacey Kent



eu não perco a Esperança !

sábado, outubro 24, 2009

ontem aconteceu...

















ao fim de cinco anos, reunimo-nos para uma espetada em família: os pais, os filhos, a neta e os Genros

e vamos entrar na hora de inverno de 2009


Esta noite, com o atrasar do relógio das 2h00 para a 1h00, entramos oficialmente no horário de Inverno. Mas não é só a hora que muda - o seu ritmo biológico também é afectado. As perturbações do sono e o cansaço são os principais efeitos, segundo um estudo da Albenture. "Com o novo horário amanhece mais cedo, mas também anoitece mais cedo, o que pode provocar pequenas perturbações devido a alterações de ritmos, sobretudo no horário das refeições, na hora de dormir e de acordar de manhã", revela a investigação.

O cansaço é o sintoma mais habitual, seguido de depressão (10%), falta de concentração (7%), ansiedade (6%) e falta de apetite (1%). O tempo de adaptação ao novo horário não é igual para todos: há quem refira que precisa de menos 24 horas, outros levam mais de sete dias. Quando as perturbações se prolongam mais de 15 dias podem mesmo resultar em depressões. Dormir bem antes da mudança da hora é uma forma de se proteger destes efeitos.

mais um desenho da Marta



neste desenho podem ver  uma árvore com frutos, uma lagartinha, uma menina e a flor, uma formiguinha, uma abelhinha e um passarinho, nuvens e um sol sorridente.

Navegar


Filipa Leal - Navegar
Porque buscamos no quotidiano uma estrada onde se repita o amor e a casa de algum Verão. Porque a memória tem sinais de trânsito e às vezes falamos muito e alto quando está vermelho para recordar, e chamamos os amigos e de repente fica amarelo sem sabermos como, e no fim do dia, quando nos deitamos, cai o verde e tudo avança e as recordações são em vez do sono, são em vez da vida, são em vez do verbo. Porque também nós temos montanhas e rios assinalados e também em nós há itinerários principais e secundários e ruas que vão da cabeça aos pés quando a mão desejada nos percorre como carro de brincar. Porque também nós exigimos um novo aeroporto onde pousar a cabeça, ou pelo menos algumas obras no aeroporto onde desajeitadamente procuramos aterrar. Porque mesmo com quatro ou vinte auto-estradas continuamos a ter o caminho para o tanque onde mergulhávamos na infância. Porque andamos todos à procura uns dos outros dentro e fora de quem somos e parece que nos desencontramos, que paramos na estação de serviço errada, a 10 km, sempre a olharmos para o relógio, a 10 km, na direcção uns dos outros, a 10 km mas na estação de serviço errada. Porque o limite do corpo é o desenho do mapa e às vezes apetece rasgar, omitir, estender a fronteira, mas para isso há a guerra, porque imediatamente fora desse limite há outros e outros países invadidos por nós. Porque no fundo desejamos apenas ser conquistados. Porque os países conquistados conseguem mexer no mapa e não ter culpa. Porque os países conquistados se reconstroem depois da guerra e antes do recomeço do amor.
Somos um mapa circular, humano e excessivo.
(Inédito)