[google6450332ca0b2b225.html

domingo, outubro 11, 2009

"Fatias, restos, retalhos. As formas da inutilidade "


Não há nada mais inútil do que a procura na ausência. Não há nada mais inútil do que a sombra sem andar. Cortina sem vento, grito, cabeça a pensar. Não há nada mais inútil do que distinguir juros, o sacrifício do tonto, o polvilho, a tábua, o tatu. Não há nada mais inútil do que seguir o humor, o embuste da planta, o capricho dos nervos e o princípio por fim. Não há nada mais inútil do que se armar chuva, uma igreja nevada, um prejuízo a dispor. Itinerário sem bonde, bicho solto, perdido, não há nada mais inútil do que um homem curvo, de joelhos, de concreto a vestir. Não há nada mais inútil do que se construir cidades. Não há nada mais inútil que o mármore, o jazigo e o granito, faça leve o teu chão! Não há nada mais inútil do que o homem depois de morto, os mortos num mês de maio, inútil querer ser mais. Não há nada mais inútil do que correr atrás, ir às águas confusas, ao que não move moinhos, nem germina coração. Não há nada mais inútil do que meditar em segredo, testemunho das próprias bombachas, elogio em favor de si. Não há nada mais inútil do que o tempo em dobro, jeito calmo, domesticado, cachorro a escutar sermão! Não há nada mais inútil do que um burro baixando as orelhas, falar o que dá na telha se é hora de escutar. Não há nada mais inútil do que a chuva caindo... Um homem triste ajoelhado... não há nada mais inútil, não há mais! Um bordão, um tango argentino, não há nada mais inútil que um Pau-de-Pátria-Mandado, nas verbas atrapalhado, ser útil, lambuzo de mel! Não há nada mais inútil do que o sujeito feito de barro, nada mais inútil do que a farda, a moda, a inutilidade do chapéu na mão. Não há nada mais inútil do que esses loucos na praça (úteis, por isso!), não há nada mais inútil como a cobiça, isca pra peixe no mar. Caçapa num bilhar, tirar leite de pedra, não há nada mais inútil do que dobrar o vento pra aquecer. Seja Rússia, Itália, não há nada mais inútil do que um Confessionário se o Diabo vem atender. Não há nada mais inútil do que a escuridão sem carinho. Não há nada mais inútil do que a lágrima, pensar um filho andarilho, que ande no mundo de Deus! Não há nada mais inútil do que a formiga voltando e indo, as missas se repetindo, o falastrão do pastor. Não há nada mais inútil que um grão de milho, o perfume do feno, comida em teu jejum. Não, não há nada mais inútil do que a água bater no pescoço, em fatias, em restos de amor, retalhada, disforme do coração.
in: blog vitroladosausentes

Sem comentários:

Enviar um comentário