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sábado, outubro 31, 2009

o próximo livro de Saramago?

O Prémio Nobel da Literatura 1998 falava na sessão de apresentação do seu mais recente romance, "Caim", realizada, ontem ao fim da tarde, no grande auditório da Culturgest, onde foi recebido de pé e com uma salva de palmas por uma sala cheia.  

"Todos aqueles que me conhecem bem sabem que sempre me tenho interrogado: porque é que nunca houve uma greve numa fábrica de armas? Nunca... Serão aqueles operários menos conscientes?", inquiriu.

Procurou durante algum tempo, sem êxito, um episódio que pensava ter lido em "L'Espoir", de Malraux, ou em "Por Quem os Sinos Dobram", de Hemingway, passado na Guerra Civil de Espanha, sobre "um morteiro que não rebentou e que tinha um papel dentro, escrito, em português, que dizia: 'Esta bomba não rebentará'".

É esse o impulso inicial da história do seu próximo livro: "que uma classe operária tão capaz de lutas não tenha conseguido entrar nos portões de uma fábrica de armas".

"Faz-se o que se pode contra a droga, faz-se o que se pode contra a gripe A... e o que é que se faz contra o comércio de armas? Nada", observou.

"Assim como Deus não é de fiar, os exércitos também não. O cidadão deve exercer a sua parte de vigilante e não se deixar levar pela banda de música ou pelo seu porta-estandarte", defendeu.

Saramago admitiu, em seguida, que gostaria de ter escrito "um livro a que pudesse chamar 'O Livro do Desassossego' mas já está, o Fernando Pessoa antecipou-se".

Mas - prosseguiu - "o meu desassossego não é exactamente o dele: como eu não vivo desassossegado, quero desassossegar".

Depois, citou um verso de Camões, que diz "Estavas linda, Inês, posta em sossego" e interrogou-se: "O que é isso de 'posta em sossego'? Quer dizer, cortaram-lhe o pescoço, ficou 'posta em sossego'!" - a plateia deu gargalhadas e aplaudiu de pé, novamente.
in: SIC notícias/Lusa





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