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quarta-feira, outubro 28, 2009

Fábula: diálogo de um católico com um cristão em 1932. O primeiro de uma série de textos inéditos de Fernando Pessoa

Felizmente, o espólio de Fernando Pessoa foi declarado bem de interesse nacional e tesouro nacional (Diário da República, de 14 de Setembro de 2009); felizmente, porque foi um reconhecimento da sua valia e uma medida de protecção. O que pode parecer paradoxal é que foi designado como tesouro nacional antes de estarem publicados ou devidamente inventariados todos os escritos do espólio. Hoje ainda não se conhecem milhares deles, que é de prever que se comecem a divulgar a um ritmo mais acelerado em 2010, quando o espólio pessoano ficar disponível em linha.
O texto que pode consultar a partir da barra lateral do site e os que se lhe seguirão constituem uma espécie de antecipação dessa realidade virtual que facilitará a consulta de mais de 30 mil papéis e 1200 livros. O texto foi dactilografado numa folha que o Ministério da Cultura adquiriu a 13 de Novembro de 2008, "com o generoso patrocínio da REN - Redes Energéticas Nacionais, SGPS, S.A.", num leilão em que se arremataram 70 lotes. Trata-se do diálogo entre um cristão e um católico e está encimado pela indicação «Fab. N. J.» («Fábulas para as Nações Jovens»), título de um conjunto de trechos tardios que Henrique Chaves revelou parcialmente em "Pessoa Inédito" (1993) e que Zetho Cunha Gonçalves reeditou em "Contos, Fábulas & outras ficções" (2008). Estas fábulas de carácter político - muito diferentes da única fábula que Pessoa publicou em vida, em 1915 - serão de cerca de 1932.
Na transcrição do diálogo faltam umas linhas finais (intituladas "Moralidade"), acrescentadas pelo autor com a mesma caneta preta que utilizou para introduzir alterações no texto. Creio ler as palavras "pergunta" e "resposta", tal como o nome "Lope de Vega", mas a decifração actual não permite perceber o conceito ou intuito das últimas linhas. Talvez o leitor nos ajude. É que estes textos são pessoanos por terem sido escritos por Pessoa, mas também por terem sido estabelecidos colectivamente. São pessoanos no sentido mais lato do termo. Devo a José Barreto a leitura de uma letra "e" depois de "offendido" (cf. "como o catholico não ficasse offendido"), que me obrigou a rever a minha reconstrução conjectural do parágrafo que começa "Assim fizeram".

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