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terça-feira, novembro 30, 2010

como eu vejo a ilha

Da vila do Porto Moniz, para o Ilhéu da Ribeira da Janela - 09h 30.11.10

Autobiografia sem factos

Nasci em um tempo em que a maioria dos jovens haviam perdido a crença em Deus, pela mesma razão que os seus maiores a haviam tido - sem saber porquê. E então, porque o espírito humano tende naturalmente para criticar porque sente, e não porque pensa, a maioria desses jovens escolheu a Humanidade para sucedâneo de Deus. Pertenço, porém, àquela espécie de homens que estão sempre na margem daquilo a que pertencem, nem vêem só a multidão de que são, senão também os grandes espaços que há ao lado. Por isso nem abandonei Deus tão amplamente como eles, nem aceitei nunca a Humanidade. Considerei que Deus, sendo improvável, poderia ser, podendo pois dever ser adorado; mas que a Humanidade, sendo uma mera ideia biológica, e não- significando mais que a espécie animal humana, não era mais digna de adoração do que qualquer outra espécie animal. Este culto da Humanidade, com seus ritos de Liberdade e Igualdade, pareceu-me sempre uma revivescência dos cultos antigos, em que animais eram como deuses, ou os deuses tinham cabeças de animais.
Assim, não sabendo crer em Deus, e não podendo crer numa soma de animais, fiquei, como outros da orla das gentes, naquela distância de tudo a que comummente se chama a Decadência. A Decadência é a perda total da inconsciência; porque a inconsciência é o fundamento da vida. O coração, se pudesse pensar, pararia.
A quem, como eu, assim, vivendo não sabe ter vida, que resta senão, como a meus poucos pares, a renúncia por modo e a contemplação por destino? Não sabendo o que é a vida religiosa, nem podendo sabê-lo, porque se não tem fé com a razão; não podendo ter fé na abstracção do homem, nem sabendo mesmo que fazer dela perante nós, ficava-nos, como motivo de ter alma, a contemplação estética da vida. E, assim, alheios à solenidade de todos os mundos, indiferentes ao divino e desprezadores do humano, entregamo-nos futilmente à sensação sem propósito, cultivada num epicurismo subtilizado, como convém aos nossos nervos cerebrais.
Retendo, da ciência, somente aquele seu preceito central, de que tudo é sujeito às leis fatais, contra as quais se não reage independentemente, porque reagir é elas terem feito que reagíssemos; e verificando como esse preceito se ajusta ao outro, mais antigo, da divina fatalidade das coisas, abdicamos do esforço como os débeis do entre timento dos atletas, e curvamo-nos sobre o livro das sensações com um grande escrúpulo de erudição sentida.
Não tomando nada a sério, nem considerando que nos fosse dada, por certa, outra realidade que não as nossas sensações, nelas nos abrigamos, e a elas exploramos como a grandes países desconhecidos. E, se nos empregamos assiduamente, não só na contemplação estética mas também na expressão dos seus modos e resultados, é que a prosa ou o verso que escrevemos, destituídos de vontade de querer convencer o alheio entendimento ou mover a alheia vontade, é apenas como o falar alto de quem lê, feito para dar plena objectividade ao prazer subjectivo da leitura.
Sabemos bem que toda a obra tem que ser imperfeita, e que a menos segura das nossas contemplações estéticas será a daquilo que escrevemos. Mas imperfeito é tudo, nem há poente tão belo que o não pudesse ser mais, ou brisa leve que nos dê sono que não pudesse dar-nos um sono mais calmo ainda. E assim, contempladores iguais das montanhas e das estátuas, gozando os dias como os livros, sonhando tudo, sobretudo, para o converter na nossa íntima substância, faremos também descrições e análises, que, uma vez feitas, passarão a ser coisas alheias, que podemos gozar como se viessem na tarde.
Não é este o conceito dos pessimistas, como aquele de Vigny, para quem a vida é uma cadeia, onde ele tecia palha para se distrair. Ser pessimista é tomar qualquer coisa como trágico, e essa atitude é um exagero e um incómodo. Não temos, é certo, um conceito de valia que apliquemos à obra que produzimos. Produzimo-la, é certo, para nos distrair, porém não como o preso que tece a palha, para se distrair do Destino, senão da menina que borda almofadas, para se distrair, sem mais nada.
Considero a vida uma estalagem onde tenho que me demorar até que chegue a diligência do abismo. Não sei onde ela me levará, porque não sei nada. Poderia considerar esta estalagem uma prisão, porque estou compelido a aguardar nela; poderia considerá-la um lugar de sociáveis, porque aqui me encontro com outros. Não sou, porém, nem impaciente nem comum. Deixo ao que são os que se fecham no quarto, deitados moles na cama onde esperam sem sono; deixo ao ue fazem os que conversam nas salas, de onde as músicas e as vozes cegam cómodas até mim. Sento-me à porta e embebo meus olhos e ouvidos nas cores e nos sons da paisagem, e canto lento, para mim só, vagos cantos que componho enquanto espero.
Para todos nós descerá a noite e chegará a diligência. Gozo a brisa que me dão e a alma que me deram para gozá-la, e não interrogo mais nem procuro. Se o que deixar escrito no livro dos viajantes puder, relido um dia por outros, entretê-los também na passagem, será bem. Se não o lerem, nem se entretiverem, será bem também. 
(13/06/1888-30/11/1935)
retrato de Fernando Pessoa por Almada Negreiros 

A Falácia da Comparação

Os homens não se conhecem uns aos outros com facilidade, ainda que ponham nisso o melhor da sua vontade e das suas intenções. Porque há que contar sempre com a má vontade que tudo distorce.
Conhecer-nos-íamos melhor uns aos outros se não estivéssemos sempre a querer comparar-nos uns com os outros. Decorre daí que as pessoas fora do vulgar ficam em pior situação, porque, como as outras não chegam a poder comparar-se com elas, tornam-se alvo de demasiada atenção. 

Johann Wolfgang von Goethe, in 'Máximas e Reflexões'

Nota da Redacção - Na sociedade em que vivemos a maioria das pessoas não vive por si e para si, mas "vivem" em função das modas, do gosto dos colegas, amigos ou vizinhos, fingem sentimentos que nunca lhes passaram sequer no coração e falam pela "cabeça" dos outros. É a falta de personalidade, a cobardia de se assumir, se ser como se quer (e pode). É a falta de inteligência de quem não sabe governar a sua vida sem ser o espelho ou mesmo o reflexo, das ideias dos outros.

segunda-feira, novembro 29, 2010

PAPASERVATIVO

O Papa, o bom do Papa, pronunciou-se. Hoje e mais uma vez, no Altar da televisão.
Homossexualidade nem pensar - foi o que ele disse.
Segundo as suas próprias palavras a homossexualidade é uma coisa incompatível com a vontade de Deus. E pronto, fim de citação e dúvidas, uma vez que o senhor é infalível, eu calo-me, já cá não está quem pensou.  A homossexualidade é incompatível com a (má) vontade de Deus. Mas o Papa é neutro, nestas coisas horríveis, vulgares e boçais como sejam as relações sexuais, quisquer que elas sejam. Ele é assim como que uma espécie de androide, nem hétero nem omo. Talvez mais um género tide, mais sabão azul e branco, mais roupa na lixívia  -  esta, sim, uma coisa que pode substituir a fogueira com vantagem e ao alcance de todas as bolsas, de todas as donas de casa, mesmo as das classes mais desfavorecidas, mais anatematizadas, soi-disant.
O Papa é quase inodoro, o Papa é puro, é feito de éter e de açúcar, daquele açucar da feira popular, aquele que nasce num alguidar mecânico e rotativo, que aparece milagrosa e aparentementemente corporizado à volta de um pauzinho e sem saber a nada. O Papa é insípido, é impalpável. Apenas fala e diz coisas que ninguém percebe, seja qual a for a língua do país a quem se dirija.
O Papa cheira a polido e a lavado, tal como aquelas canetas de tinta permanente (o Papa é permanente) da escola e da infância, quando, pensativos, as metíamos na boca, no discorrer de alguma questão difícil.
O Papa vive nas Disneylândia, tal como a maioria dos católicos, onde tudo é bom, tudo é clean, tudo é lavado, cloroformizado, sanitized, antisséptico.
E o Papa afinal sempre usa preservativo, o Papa evita o mais que pode os contágios com a realidade.

Artigo escrito por Carlos Reis
17:54 Terça feira, 23 de Nov de 2010

Dores de cabeça nova técnica

não custa tentar, pelo menos dá para relaxar os músculos...

Hillary Clinton mandou diplomatas fazer papel de espiões

Os Estados Unidos exigem aos seus diplomatas que desempenhem um papel de espião, obtendo por exemplo o número dos cartões de crédito de responsáveis estrangeiros, segundo documentos secretos difundidos no domingo pelo site de Internet WikiLeaks.
Entre os 250.000 documentos da diplomacia norte-americana, revelados através dos diários norte-americano New York Times e britânico The Guardian, figuram várias missivas dirigidas a embaixadas, nas quais Washington reclama missões geralmente associadas ao trabalho da CIA.
Uma directiva secreta assinada em Julho de 2009 pela secretária de Estado, Hillary Clinton, reclama detalhes técnicos sobre as redes de comunicação utilizadas pelos responsáveis das Nações Unidas, como palavras passe e códigos secretos.
Esta "directiva nacional sobre a recolha de informações humanas" foi enviada às embaixadas norte-americanas da ONU em Nova Iorque, Viena e Roma, bem como a 33 embaixadas e consulados no Médio Oriente, na Europa de Leste, na América Latina e África.(...)
fonte DN, Lisboa
Nota da Redacção -Se alguém tinha dúvidas, eis a prova provada. A Wikileaks faz o favor ao Mundo de denunciar o cinismo, a falta de diplomacia, o egoísmo (que não considero patriótico) que continua a liderar as relações e a opinião americana sobre as gentes, os povos, o Mundo global. Com o complexo de serem os donos do Mundo, espalham-se, derramando crises, guerras, lançando o caos. Não aderem aos projectos ecológicos de salvação do Planeta, não aderem à defesa dos Direitos Humanos (tal como o Vaticano), mantêm a pena de morte. Para mim continuam a ser...umas bestas!

Tesouro hebraico descoberto em Sinagoga

Historiador descobre património sobre comunidade judaica que se estabeleceu no País. Entre o material encontrado há documentos impressos e manuscritos
O historiador José de Almeida Mello descobriu um conjunto de objectos e documentos hebraicos na Sinagoga de Ponta Delgada, na ilha de São Miguel, Açores, que podem estabelecer o património judaico deste templo como um dos mais antigos e ricos de Portugal.
Ao despejar o conteúdo de uma velha arca guardada naquela sinagoga, José Mello encontrou uma vasta panóplia de objectos. Entre os achados estão documentos impressos e manuscritos, pergaminhos cuidadosamente enrolados, pequenos livros de bolso, uma mão em madeira, saquetas tendo no seu interior fitas de cabedal e tábuas da lei, pequenos documentos colocados no interior de tubos de vidro selados e ainda tecidos utilizados no culto religioso.
"Estaremos perante um legado com peças que podem ser anteriores ao século XIX e que remontam aos primeiros tempos dos judeus nos Açores", explicou, informando que o verdadeiro significado do achado será estudado por técnicos oriundos da comunidade israelita de Lisboa.
O que encontrou foi como entrar na "máquina do tempo e recuar" alguns séculos, conta o historiador guardião da Sinagoga de Ponta Delgada, fundada em 1836.
A primeira comunidade judaica em Ponta Delgada surgiu após o regresso a Portugal dos judeus, expulsos pelo rei D. Manuel em 1497 - os que não saíram do País foram convertidos à força ao catolicismo. Os que regressaram trouxeram consigo textos sagrados e documentos manuscritos que terão ficado como legado dos judeus entretanto radicados em São Miguel, de 1819 por diante.
De qualquer modo, na sua opinião, o acervo descoberto por José Mello remete, directa ou indirectamente, para o culto religioso hebraico e para a Torá, a "bíblia" do judaísmo. O historiador informa que as outras sinagogas portuguesas mais antigas em Portugal (em Tomar e Castelo de Vide) não têm o mesmo espólio da de São Miguel, reforçando assim o seu valor no que diz respeito à cultura hebraica.
Para José Mello, foi recompensadora a experiência de salvar do lixo objectos com importância histórica, cultural e religiosa. Na verdade, o historiador sente estar face a uma descoberta que entende ser de "grande valor. Foi como mexer nos artefactos de um povo ausente e expulso de Portugal ao longo de séculos".
José de Almeida Mello está convencido de que o achado ajudará a compreender melhor a primeira comunidade judaica que se estabeleceu em Portugal, nomeadamente em Ponta Delgada. O património agora descoberto já foi mostrado ao embaixador de Israel em Portugal, Ehud Gol.
A Câmara Municipal de Ponta Delgada está a elaborar um projecto para recuperar o antigo templo judaico na ilha, actualmente em ruínas, e que incluirá a criação de um núcleo museológico. Nos Açores, são poucos os seguidores do judaísmo.fonte DN Lisboa

Amnesty International (Signature)



domingo, novembro 28, 2010

como eu vejo a ilha

A um Amigo não se Empresta nem se Compra

Nada peças emprestado a um amigo: pode ser que não possua aquilo que faz crer a toda a gente que tem e, assim desmascarado, odiar-te-ia. De igual modo, se consentir contra a sua vontade ou se não recuperar o que lhe pertence em perfeito estado, guardar-te-á rancor. Tão-pouco compres a um amigo o que quer que seja: se te pedir um preço demasiado elevado, serás defraudado, se o preço for demasiado baixo, ficará ele a perder. Em ambos os casos, a vossa amizade ressentir-se-á.

Jules Mazarin, in "Breviário dos Políticos"

sexta-feira, novembro 26, 2010

Descoberto na Áustria quadro de D. Sebastião perdido há 400 anos

Este retrato da rua Nova dos Mercadores foi encontrado numa casa senhorial inglesa e não estava identificado com Lisboa
O Museu Rietberg, em Zurique, Suíça, inaugura amanhã a exposição "Marfins Cingaleses do Século XVI", que tem em destaque uma tela com um retrato inédito de D. Sebastião, da autoria de Alonso Sanchez Coello, pintada na corte portuguesa em 1562 e cujo paradeiro era ignorado desde há quatro séculos.
Na verdade, a obra estava na Áustria, no castelo Schonberg, mas erradamente identificada com um nobre austríaco.
Em simultâneo, serão mostrados na exposição dois outros quadros da mesma época, que retratam a rua Nova dos Mercadores de uma Lisboa pré-pombalina. As duas telas foram encontradas numa casa senhorial inglesa e não estavam identificadas com Lisboa.

Quadros restaurados 

Todos os quadros foram restaurados e limpos a expensas do Museu Rietberg e foi a partir dessa operação que se tornou possível a sua identificação.  Numa das salas do museu foi reconstituída a estrutura do casco de uma caravela portuguesa. No interior, serão expostas peças de marfim e projetadas imagens dos dois elefantes levados para Lisboa e depois para Viena.

Peças de Catarina de Áustria 

No geral, a mostra de Zurique reúne peças de marfim esculpidas em Ceilão em meados do século XVI. Na sua grande maioria pertenceram ao acervo de Catarina de Áustria, rainha de Portugal entre 1525 e 1578.

Em 1506 os portugueses chegaram a Ceilão, hoje Sri Lanka, e estabeleceram relações comerciais muito fortes com o reino de Kotte no sul de Ceilão. A partir desse encontro passaram a chegar à Europa produtos tão ricos e diversificados como elefantes, madeiras preciosas, especiarias ou pedras de âmbar. Um exemplo particularmente fascinante desse negócio estabelecido é proporcionado pelos ricos marfins pertencentes à coleção de Catarina de Áustria e que constituem um dos destaques da exposição.
Este retrato da rua Nova dos Mercadores foi encontrado numa casa senhorial inglesa e não estava identificado com Lisboa
Ruth E. Bubb/Society of Antiquaries, London
Os marfins agora exibidos em Zurique eram parte de ofertas diplomáticas à corte de Lisboa e não só revelam as capacidades artísticas dos homens que trabalhavam este material em Kotte, como testemunham as invulgares relações políticas e culturais existentes à época entre Portugal e Ceilão. De alguma forma constituem, também, uma demonstração da grandeza e do poder da corte portuguesa e de Portugal como potência marítima, que tinha o seu centro asiático estabelecido em Goa.
Por outro lado recordam-nos o dinamismo daquele que foi o primeiro país da Ásia a ter uma embaixada na Europa. Em 1542, o primeiro embaixador de Ceilão, Sri Radaraska Pândita, um religioso de Kotte, chegava a Lisboa para assim materializar as excelentes relações existentes entre os dois países.
Algumas das peças foram cedidas por coleções privadas e nunca foram antes expostas ao público.
A mostra inclui ainda obras pertencentes a mais de 30 museus de várias partes do mundo e tem o apoio do Estado português através do Instituto Camões.fonte PUBLICO

YOU ARE WELCOME TO ELSINORE



Entre nós e as palavras há metal fundente
entre nós e as palavras há hélices que andam
e podem dar-nos morte violar-nos tirar
do mais fundo de nós o mais útil segredo
entre nós e as palavras há perfis ardentes
espaços cheios de gente de costas
altas flores venenosas portas por abrir
e escadas e ponteiros e crianças sentadas
à espera do seu tempo e do seu precipício

Ao longo da muralha que habitamos
há palavras de vida há palavras de morte
há palavras imensas, que esperam por nós
e outras, frágeis, que deixaram de esperar
há palavras acesas como barcos
e há palavras homens, palavras que guardam
o seu segredo e a sua posição

Entre nós e as palavras, surdamente,
as mãos e as paredes de Elsenor
E há palavras nocturnas palavras gemidos
palavras que nos sobem ilegíveis à boca
palavras diamantes palavras nunca escritas
palavras impossíveis de escrever
por não termos connosco cordas de violinos
nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar
e os braços dos amantes escrevem muito alto
muito além do azul onde oxidados morrem
palavras maternais só sombra só soluço
só espasmo só amor só solidão desfeita

Entre nós e as palavras, os emparedados
e entre nós e as palavras, o nosso dever falar
 

MÁRIO CESARINY DE VASCONCELOS 
(09/08/1923-26-11-2006) 
auto retrato do Autor feito pelo Autor

quinta-feira, novembro 25, 2010

é assim que se começa....



3 year old Jonathan conducting to the 4th movement of Beethoven's 5th Symphony

Fado Sidonim

letra- Lino Ferreira e Artur Rocha (para a revista "Bola de Sabão", 1918)

Nesta vida não há nada
Como o estoiro da granada,
P'ra virar tudo o que exista,
Pois há muito já quem diga:
«Eu nunca fui formiga,
Sempre fui um sidonista!»

Até o Marquês de Pombal,
Que a governar Portugal
Foi um valente estadista,
P'ra arreliar o Germano,
O doutor e mais o mano,
Sempre fui um sidonista!

Ficou tudo Sidonim,
Sidonim Paes, pim!
Pois no grande 31
Sidonim Paes, pum!
Estoiravam balas assim
Sidonim Paes, pim!
Como se fosse em Verdum
Sidonim Paes, pum!

[instrumental]

O grande Napoleão,
Rijo, forte e valentão,
Segundo a História regista,
Disse uma dia p'ró Junot:
«Se fui da França a Moscou
É porque sou sidonista»

E o audaz Vasco da Gama,
Que à nossa pátria deu fama
Com a sua heróica conquista,
Por artes de Belzebu
Ao chegar a Calecut,
Era já um sidonista!

Ficou tudo Sidonim,
Sidonim Paes, pim!
Pois no grande 31,
Sidonim Paes, pum!
Estoiravam balas assim,
Sidonim Paes, pim!
Como se fosse em Verdum,
Sidonim Paes, pum!

[instrumental]

Tivemos a patriota
Padeira de Aljubarrota,
Que p'ró banzé foi artista;
Uma vez ergueu a pá
E correu tudo de cá,
Por ser grande sidonista!

Todos proclamam a cena
De Filipa de Vilhena,
Mas ela estava prevista;
Se noutros tempos guerreiros
Fez dos filhos cavaleiros
Provou que era sidonista!

Ficou tudo Sidonim,
Sidonim Paes, pim!
Pois no grande 31,
Sidonim Paes, pum!
Estoiravam balas assim,
Sidonim Paes, pim!
Como se fosse em Verdum,
Sidonim Paes, pum!

[instrumental]

Estoiravam balas assim,
Sidonim Paes, pim!
Como se fosse em Verdum,
Sidonim Paes, pum!


Notas de rodapé:
a) formiga – alusão aos membros da organização secreta "Formiga Branca", afecta ao Partido Democrático, de Afonso Costa.
«Com o nome de "Formiga Branca", ou simplesmente com a antomásia de "Formiga", se designava uma sociedade secreta de revolucionários civis, que surgiu pouco depois de proclamada a República. O seu intuito ou pretexto era a defesa do regime contra os monárquicos e mesmo contra os republicanos moderados, considerados traidores. Machado Santos, fundador da República, pela vitória na Rotunda, publicou em 1916 um opúsculo – A ordem pública e o 14 de Maio – em que ataca energicamente a "Formiga Branca": "Assim se formou a coorte arruaceira do afonsismo, aquela que mais tarde havia de dominar o edifício republicano e por isso mereceu ser intitulada Formiga Branca".» (in "Enciclopédia Luso-Brasileira Verbo")
b) Verdum – aportuguesamento do topónimo francês "Verdun", palco de uma importante batalha da I Guerra Mundial.

quarta-feira, novembro 24, 2010

1506 - O Massacre de Lisboa

Antes que el Rei fosse de Lisboa para Almeirim, ordenou Tristão da Cunha à Índia por capitão de uma armada, da qual, e do que nesta viagem se fez se dirá adiante, no ano de mil quinhentos e oito, em que tornou. Pelo que nestes dois capítulos, que são já derradeiros desta primeira parte tratarei de um tumulto, e levantamento, que aos dezanove dias de Abril, deste ano de mil quinhentos e seis, em Domingo de Pascoela fez em Lisboa contra os cristãos-novos, que foi pela maneira seguinte. No mosteiro de São Domingos da dita cidade estava uma capela a que chamava de Jesus, e nela um crucifixo, em que foi então visto um sinal, a que davam cor de milagre, com quanto os que na igreja se acharam julgavam ser o contrário dos quais um cristão-novo disse que lhe parecia uma candeia acesa que estava posta no lado da imagem de Jesus, o que ouvindo alguns homens baixos o tiraram pelos cabelos de arrasto para fora da igreja, e o mataram, e queimaram logo o corpo no Rossio. Ao qual alvoroço acudiu muito povo, a quem um frade fez uma pregação convocando-os contra os cristãos-novos, após o que saíram dois frades do mosteiro, com um crucifixo nas mãos bradando, heresia, heresia, o que imprimiu tanto em muita gente estrangeira, popular, marinheiros de naus, que então vieram da Holanda, Zelândia, e outras partes, ali homens da terra, da mesma condição, e pouca qualidade, que juntos mais de quinhentos, começaram a matar todos os cristãos-novos que achavam pelas ruas, e os corpos mortos, e os meio vivos lançavam e queimavam em fogueiras que tinham feitas na Ribeira e no Rossio a qual negócio lhes serviam escravos e moços que com muita diligência acarretavam lenha e outros materiais para acender o fogo, no qual Domingo de Pascoela mataram mais de quinhentas pessoas. A esta turma de maus homens, e dos frades, que sem temor de Deus andavam pelas ruas concitando o povo a esta tamanha crueldade, se ajuntaram mais de mil homens da terra, da qualidade dos outros, que todos juntos segunda-feira continuaram nesta maldade com maior crueza, e por já nas ruas não acharem cristãos-novos, foram cometer com vaivéns e escadas as casas em que viviam, ou onde sabiam que estavam, e tirando-os delas de arrasto pelas ruas, com seus filhos, mulheres, e filhas, os lançavam de mistura vivos e mortos nas fogueiras, sem nenhuma piedade, e era tamanha a crueza que até nos meninos, e nas crianças que estavam no berço a executavam, tomando-os pelas pernas fendendo-os em pedaços, e esborrachando-os de arremesso nas paredes. Nas quais cruezas não se esqueceram de meter a saque as casas, e roubar todo o ouro, prata, e enxovais que nelas acharam, vindo o negócio a tanta dissolução que das igrejas tiraram muitos homens, mulheres, moços, moças, destes inocentes, despegando-os dos Sacrários, e das imagens de nosso Senhor, e de nossa Senhora, e outros Santos, com que o medo da morte os tinha abraçado, e dali os tiraram, matando e queimando sem nenhum temor a Deus assim a elas como a eles. Neste dia pereceram mais de mil almas, sem que na cidade alguém ousasse de resistir, pela pouca gente de sorte que nela havia por estarem os mais dos honrados fora, por causa da peste. E se os alcaides, e outras justiças, queriam acudir a tamanho mal, achavam tanta resistência, que eram forçados a se recolher a parte onde estivessem seguros, de não acontecer o mesmo que aos cristãos-novos. (…) Passado este dia, que era o segundo desta perseguição, tornaram terça-feira este danados homens a prosseguir a sua crueza, mas não tanto quanto nos outros dias porque já não achavam quem matar, pois todos os cristãos-novos que escaparam desta tamanha fúria, serem postos a salvo por pessoas honradas, e piedosas que nisto trabalharam tudo o que neles foi.”

Damião de Góis (1502-1574), in “Chronica do Felicissimo Rey D. Emanuel da Gloriosa Memória”, escrito em Lisboa entre 1566 e 1567. Historiador e humanista, Guarda-Mor dos Arquivos Reais da Torre do Tombo, figura central do Renascimento em Portugal – ele próprio acusado mais tarde de “heresia” pela Inquisição por causa das suas simpatias luteranas e da amizade com Erasmo –, Damião de Góis relata com sentida e genuína indignação o massacre de 1506, ao contrário de outros cronistas “cristãos-velhos” que se limitaram posteriormente a fazer um relato desapaixonado e quase burocrático da matança, optando por “branquear” os detalhes mais macabros testemunhados nos escritos de Góis.

terça-feira, novembro 23, 2010

como eu vejo a ilha


o semeador de estrelas

O Semeador de Estrelas é uma estátua localizada em Kaunas, Lituânia.

Durante o dia passa despercebida.
Mas, quando a noite chega,

a estátua justifica seu nome...
Que possamos ver sempre além daquilo que está

diante de nossos olhos, hoje e sempre 

"As vezes, nossa vida é colocada de cabeça para baixo,
para que possamos aprender a viver de cabeça para cima."

segunda-feira, novembro 22, 2010

Ganhei coragem....


"Mesmo o mais corajoso entre nós só raramente
tem coragem para aquilo que ele realmente conhece",
observou Nietzsche.
É o meu caso.
Muitos pensamentos meus, eu guardei em segredo.
Por medo.
Alberto Camus, leitor de Nietzsche, acrescentou um detalhe
acerca da hora em que a coragem chega:
"Só tardiamente ganhamos a coragem de assumir aquilo que sabemos".
Tardiamente.
Na velhice.
Como estou velho, ganhei coragem.

Vou dizer aquilo sobre o que me calei:
"O povo unido jamais será vencido", é disso que eu tenho medo.

Em tempos passados, invocava-se o nome de Deus
como fundamento da ordem política.
Mas Deus foi exilado e o "povo" tomou o seu lugar:
a democracia é o governo do povo.
Não sei se foi bom negócio;
o fato é que a vontade do povo, além de não ser confiável,
é de uma imensa mediocridade.
Basta ver os programas de TV que o povo prefere.

A Teologia da Libertação sacralizou o povo
como instrumento de libertação histórica.
Nada mais distante dos textos bíblicos.
Na Bíblia, o povo e Deus andam sempre em direções opostas.
Bastou que Moisés, líder, se distraísse na montanha
para que o povo, na planície,
se entregasse à adoração de um bezerro de ouro.
Voltando das alturas, Moisés ficou tão furioso
que quebrou as tábuas com os Dez Mandamentos.

E a história do profeta Oséias, homem apaixonado!
Seu coração se derretia ao contemplar o rosto da mulher que amava!
Mas ela tinha outras idéias.
Amava a prostituição.
Pulava de amante e amante enquanto o amor de Oséias
pulava de perdão a perdão.
Até que ela o abandonou.
Passado muito tempo, Oséias perambulava solitário
pelo mercado de escravos.
E o que foi que viu?
Viu a sua amada sendo vendida como escrava.
Oséias não teve dúvidas.
Comprou-a e disse:
"Agora você será minha para sempre.".
Pois o profeta transformou a sua desdita amorosa
numa parábola do amor de Deus.

Deus era o amante apaixonado.
O povo era a prostituta.
Ele amava a prostituta, mas sabia que ela não era confiável.
O povo preferia os falsos profetas aos verdadeiros,
porque os falsos profetas lhe contavam mentiras.
As mentiras são doces;
a verdade é amarga.

Os políticos romanos sabiam que o povo se enrola
com pão e circo.
No tempo dos romanos, o circo eram os cristãos
sendo devorados pelos leões.
E como o povo gostava de ver o sangue e ouvir os gritos!
As coisas mudaram.
Os cristãos, de comida para os leões,
se transformaram em donos do circo.

O circo cristão era diferente:
judeus, bruxas e hereges sendo queimados em praças públicas.
As praças ficavam apinhadas com o povo em festa,
se alegrando com o cheiro de churrasco e os gritos.
Reinhold Niebuhr, teólogo moral protestante, no seu livro
"O Homem Moral e a Sociedade Imoral"
observa que os indivíduos, isolados, têm consciência.
São seres morais.
Sentem-se "responsáveis" por aquilo que fazem.
Mas quando passam a pertencer a um grupo,
a razão é silenciada pelas emoções coletivas.

Indivíduos que, isoladamente,
são incapazes de fazer mal a uma borboleta,
se incorporados a um grupo tornam-se capazes
dos atos mais cruéis.
Participam de linchamentos,
são capazes de pôr fogo num índio adormecido
e de jogar uma bomba no meio da torcida do time rival.
Indivíduos são seres morais.
Mas o povo não é moral.
O povo é uma prostituta que se vende a preço baixo.

Seria maravilhoso se o povo agisse de forma racional,
segundo a verdade e segundo os interesses da coletividade.
É sobre esse pressuposto que se constrói a democracia.

Mas uma das características do povo
é a facilidade com que ele é enganado.
O povo é movido pelo poder das imagens
e não pelo poder da razão.
Quem decide as eleições e a democracia são os produtores de imagens.
Os votos, nas eleições, dizem quem é o artista
que produz as imagens mais sedutoras.
O povo não pensa.
Somente os indivíduos pensam.
Mas o povo detesta os indivíduos que se recusam
a ser assimilados à coletividade.
Uma coisa é a massa de manobra sobre a qual os espertos trabalham.

Nem Freud, nem Nietzsche e nem Jesus Cristo confiavam no povo.
Jesus foi crucificado pelo voto popular, que elegeu Barrabás.
Durante a revolução cultural, na China de Mao-Tse-Tung,
o povo queimava violinos em nome da verdade proletária.
Não sei que outras coisas o povo é capaz de queimar.

O nazismo era um movimento popular.
O povo alemão amava o Führer.

O povo, unido, jamais será vencido!

Tenho vários gostos que não são populares.
Alguns já me acusaram de gostos aristocráticos.
Mas, que posso fazer?
Gosto de Bach, de Brahms, de Fernando Pessoa, de Nietzsche,
de Saramago, de silêncio;
não gosto de churrasco, não gosto de rock,
não gosto de música sertaneja,
não gosto de futebol.
Tenho medo de que, num eventual triunfo do gosto do povo,
eu venha a ser obrigado a queimar os meus gostos
e a engolir sapos e a brincar de "boca-de-forno",
à semelhança do que aconteceu na China.

De vez em quando, raramente, o povo fica bonito.
Mas, para que esse acontecimento raro aconteça,
é preciso que um poeta entoe uma canção e o povo escute:
"Caminhando e cantando e seguindo a canção.",
Isso é tarefa para os artistas e educadores.
O povo que amo não é uma realidade, é uma esperança.

Rubem Alves
colunista da Folha de S. Paulo

domingo, novembro 21, 2010

Os cumprimentos pelo mundo fora - JN

Os cumprimentos pelo mundo fora - JN


Dê um clique no link e veja como se cumprimentam as pessoas no nosso Mundo.

As Amantes de D. João V

“Quando em 1742 D. João V sofreu o primeiro ataque de paralisia, o físico Bernardes teve este dito de espírito, que brigava com as conveniências palacianas:
- Cure-o João Jaques, que sabe o que lhe fez, e Manuel da Costa, que sabe o que ele fez.
Não obstante o Rei negá-lo aos médicos, toda a gente sabia até que ponto D. João V abusava dos excitantes.
Lord Freeman, que viajou em Portugal de 1778 a 1779, diz numa das suas cartas que «D. João V dissipou a sua vida com clérigos e mulheres; que depois de ter introduzido a Patriarcal, deixou reduzir a tropa a nada, e que decaído pela idade, para gozar mais tempo das damas, tomou cantáridas, as quais o reduziram a uma suma frouxidão; que tendo vivido como sultão, fez as pazes com o Céu, e acabou como santo, segundo as vozes dos lisonjeiros padres que lhe assistiram.»
Costigan e outros falam pela mesma boca.
Depauperado, exangue, o Rei vira chegar a paralisia complicada com reverdecimentos de antiga luxúria asiática, por me servir da linguagem de Santo Agostinho.
Não vampirizou, para robustecer-se, o sangue das crianças, como de Luís XI conta a lenda, nem chuchurreou no peito das mulheres, para alimentar-se a leite, como o cardeal D. Henrique.
Voltou-se para Deus e para as Caldas da Rainha.”

[Página 199 - As Amantes de D. João V, Alberto Pimentel, Bonecos Rebeldes, 3.ª Edição, Fevereiro de 2009]
fonte net

sábado, novembro 20, 2010

dia Universal da Criança


"O ser humano vê-se a si mesmo, aos seus pensamentos, como algo separado do resto do Universo, uma espécie de ilusão de óptica da sua consciência.
Essa ilusão é uma prisão que nos restringe os desejos pessoais, os conceitos e o afecto por pessoas mais próximas.
A nossa principal tarefa é livrarmo-nos desta prisão, ampliando o nosso círculo de compaixão para que possa abranger todos os seres vivos, toda a natureza e a sua beleza. Ninguém conseguirá alcançar completamente este objectivo, mas lutar pela sua realização já é, por si só, parte da nossa libertação e o alicerce da nossa segurança interior.

Albert Einstein

foto do dia

No dia da Filosofia...
 

"Uma nova penalidade"

"O Diário de Noticias, jornal que tem imposto aos seus correspondentes o hábito das informações escrupulosas e sérias, inseria ultimamente uma carta de Gouveia em que era narrado este caso: «Um marido matara sua mulher, partira-a aos pedaços, fora preso, e condenado...
Reparem bem! «É condenado... a varrer as ruas de Gouveia

De modo nenhum queremos limitar os maridos no direito de decepar suas mulheres. São miudezas domésticas em que não intervimos. Nunca se dirá que as "Farpas" se arrojam indiscretamente sobre o seio das famílias. Que os maridos, quando lhes convenha, para melhor organização do seu interior, partam suas mulheres aos pedaços - coisa é que nem nos escandaliza, nem nos jubila!
Talvez não imitássemos esse exemplo: não por nos parecer fora das atribuições maritais, mas por se nos afigurar excessivamente trabalhoso o partir aos bocadinhos uma consorte estimada! E entendemos que quando um marido se sinta dominado pelo desejo invencível de partir alguma coisa - é mais simples ir à cozinha trinchar o roast-beef do que à alcova retalhar a esposa!
Não nos espanta também o castigo infligido pelo meritíssimo juiz de Gouveia. Nós não temos a honra de conhecer Gouveia. O código, é certo, marca uma pena diversa, não prevendo esse castigo de varrer as ruas de Gouveia - de resto todo local. Mas quem sabe se não será uma tremenda penalidade - o limpar as ruas de Gouveia!
Talvez mesmo o juiz - por lhe parecer insuficiente degredo perpétuo - rompesse no excesso arbitraria de entregar aquele facínora ao suplício imenso de limpar as ruas da sua vila. Bem pode ser que aquele marido esteja cumprindo uma sentença pavorosa, e que o devamos lastimar mais que os infelizes que S.M. Alexandre II da Rússia (que Deus guarde e muitos anos conserve em prosperidade e gloria) manda trabalhar, ao estalo do chicote, nas minas de Orilieff! A imundice da província tem mistérios.
Limpar as ruas de Gouveia será talvez a pena que de futuro adoptem, em substituição da pena morte, os códigos da Europa. Que grande honra, meus amigos, para a sujidade nacional!
Mas uma coisa nos ocorre: - e é que, d'ora em diante, varrer as ruas deixa de ser um emprego municipal, e começa a considerar-se uma pena infamante. E pode acontecer que os Srs. varredores de Lisboa - não querendo, por uma susceptibilidade exagerada, passar por terem assassinado suas esposas, deponham com gesto de desdém o cabo das suas vassouras nas mãos atarantadas da câmara municipal! Por outro lado, dada esta greve, nenhum cidadão se quererá incumbir de limpar as ruas. Há gente tão meticulosa, tão escrupulosa, que embirraria que os vizinhos a suspeitassem de ter empregado o trinchante na pessoa da sua consorte. A única pessoa que afoitamente ousaria varrer as ruas seria aquela de quem se não pudesse suspeitar um crime, aquela que fosse pela lei do Reino declarada irresponsável.
Ora há só uma neste caso. É o chefe do Estado! Esse é o único que poderia varrer as ruas sem que ninguém se lembrasse de pensar que elas andavam ali, ás vassouradas, por sentença de um tribunal. Esse é irresponsável: não comete crimes, nem sofre penas.
Mas seria realmente atroz que S. Exª. se visse obrigado, depois do teatro, a ir, por essas vielas, melancolicamente seguido da sua corte, levando, de vassoura em punho, adiante de si, em nuvens de poeira, a imundície dos seus vassalos!
Que a justiça pois nos esclareça sobre estes pontos: se limpar as ruas é uma penalidade nova, e se, a troco de quatro vassouradas, qualquer cidadão pode ter a vantagem de espatifar sua esposa: se a imundice especial e pavorosa das ruas de Gouveia torna realmente essa pena igual à de degredo: ou se o sr. Juiz de Gouveia entende que matar a esposa é acto tão meritório que merece um emprego remunerado pela câmara.
Esperamos, modestos e respeitosos, as respostas dos poderes públicos".
Eça de Queiroz
AS FARPAS. CHRONICA MENSAL DA POLITICA, DAS LETRAS E DOS COSTUMES, XXXVI Outubro 1871

sexta-feira, novembro 19, 2010

Reflexões

O Paraíso é aquele lugar onde o humor é britânico, os cozinheiros são
franceses, os mecânicos são alemães, os amantes são portugueses e tudo
é organizado pelos suíços.



O Inferno é aquele lugar onde o humor é alemão, os cozinheiros são

britânicos, os mecânicos são franceses, os amantes são suíços e tudo é
organizado pelos portugueses.

verdade, verdadinha...

politicamente incorrecto?

para ti que me visitas, uma ARTE com milénios!



SaudAR-TE,
BeijAR-TE,
AnimAR-TE,
AbraçAR-TE,
ElogiAR-TE,
ChamAR-TE,
ApoiAR-TE,
CantAR-TE,
AdmirAR-TE,
VitoriAR-TE,
AconselhAR-TE,
EscutAR-TE,
e, às vezes, IMITAR-TE (nas coisas boas),
mas nunca nunca IgnorAR-TE...
e muito menos AturAR-TE!

cartoon do dia

in Expresso, autor António, 27.02.2010

quinta-feira, novembro 18, 2010

A ADORAÇÃO DA "VITA CHRISTI" (1495)
"Xilogravura impressa em Portugal, em 1495, a ilustrar a "Vita Christi", livro custeado pela Rainha D. Leonor e impresso por Valentim Fernandes e Nicolau da Saxónia, artistas de origem germânica estabelecidos em Portugal. É provável que tenha sido aberta em Portugal, com a intenção de representar D. João II e a sua mulher, acompanhados por figuras da Corte.



Cada soberano tem diante de si um livro aberto. A presença dos livros funciona como elemento actuante na criação de uma atmosfera de recolhimento espiritual, propícia à leitura da obra que vai seguir-se (a gravura foi inserida no verso da folha-de-rosto, precedendo imediatamente o início da obra). Em segundo plano aparece um globo, que dá, juntamento com os livros, a medida universalizante da cultura."


"Vita Christi" é a primeira obra em língua portuguesa que se executou em Lisboa pelo processo tipográfico."
in: História da Edição em Portugal - Volume I - Das origens até 1536
Artur Anselmo
Lello & Irmãos, Editores - Porto, 1991

quarta-feira, novembro 17, 2010

Sorrir, é preciso!

Museu submarino, Cancún - México


Até o fim do ano começará a última fase do trabalho. DeCaires, o Parque Nacional Marítimo e a Associação Náutica de Cancún vão convidar outros artistas para contribuir para o museu submarino.
Um exército de figuras humanas vai deixar a praia em Cancún, no México, para ser submerso. As esculturas de Jason DeCaires Taylor vão ajudar na recuperação das barreiras de corais .
As esculturas são feitas de cimento. Com sua obra, DeCaires tenta unir a arte e o meio ambiente .
Sua obra, ' A Evolução Silenciosa ' , é inspirada em pessoas reais - na maioria mexicanos comuns - que foram transformadas em esculturas submarinas para dar abrigo à vida marinha .
O escultor conta que há enorme pressão sobre os corais na região de turismo intenso. Sua intervenção tenta representar a responsabilidade de todos sobre os danos ambientais, sob uma perspectiva ' optimista ' .
A composição química e o acabamento em cimento das esculturas promove a colonização da vida marinha, que com o tempo vai cobrir as esculturas em cores diferentes .

As primeiras peças deste museu submarino, submersas em 2009, são o ' Homem em Chamas ' (baseado em um pescador local), o ' Colecionador de Sonhos Perdidos ' e a ' Jardineira da Esperança ' , na foto acima.

Com sua obra, DeCaires quer ressaltar que, apesar de nos cercarmos de edifícios, não podemos esquecer o quanto dependemos da natureza .
Museu Subaquático de Artes, Cancún (Esculturas de Jason DeCaires Taylor)
O principal grupo - que consiste em 400 figuras pesando mais de 120 toneladas - será submersa nas próximas semanas. Quando isso ocorrer, o artista vai perder o ' controle estético ' sobre sua obra, que ficará a cargo da natureza .
Os modelos vivos usados por DeCaires vão desde uma freira de 85 anos até um menino de 3 anos. Para fazer os moldes, ele cobriu de gesso um contador, uma professora de ioga, um estudante, um acrobata e até um jornalista da BBC.