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sexta-feira, outubro 02, 2009

"estou muito velhinha mas a minha língua ainda está boa"


"Teresa Santos Lopes, de 97 anos, candidata-se à Assembleia de Freguesia de Vila Franca da Beira e deixa claro: “eu sou muito politiqueira”.
Teresa Santos Lopes, do alto dos seus 97 anos, é uma espécie de matriarca de Vila Franca da Beira.
Pela primeira vez, candidata-se às eleições autárquicas, sendo, provavelmente, a mais velha candidata a concorrer numa lista em todo o país.
Vai simbolicamente no último lugar na lista que o PS apresenta à Assembleia de Freguesia de Vila Franca da Beira, nas próximas eleições de 11 de Outubro.
A pequena povoação do concelho oliveirense tem também outro caso curioso, uma lista só de mulheres que concorre pelo PSD
Na semana passada, aquando da apresentação da lista do PS, a quase centenária aguentou, estoicamente, mais de duas horas no comício. Só depois da meia-noite foi dada como encerrada a apresentação, mas Teresa Santos Lopes ainda teve tempo, e fôlego, para falar com o DIÁRIO AS BEIRAS, sobre esta sua inédita candidatura.
Apesar da provecta idade, a idosa está perfeitamente lúcida e com um discurso político, que pode fazer inveja a muitos jovens candidatos. É uma conversadora nata.
“É a primeira vez que me candidato”, começa por dizer, apresentando em seguida as razões: “dar um bocadinho de apoio ao António Lopes, que é um grande amigo de Vila Franca”. António Lopes é filho da anciã, sendo cabeça de lista do PS à Assembleia Municipal de Oliveira do Hospital e número dois da lista à Assembleia de Freguesia de Vila Franca.
Como uma mãe-galinha, a D. Teresa não regateia elogios ao filho. “Apesar da minha idade, faço um bocadinho de sacrifício; até fechar os olhos farei tudo para o ajudar”. Mas a candidata recorda que o seu filho “está a ajudar um povo muito meu amigo”. Lembra os tempos em que veio viver para Vila Franca, “muito pobrezinha, descalça, com os meus mal enroupados e foi uma gente muito generosa para mim”. Por isso, o filho “não faz nada que não deva”.
Mulher honrada e trabalhadora, Teresa Lopes continua a contar alguns episódios da sua vida, utilizando amiúde uma palavra muito própria do seu vocabulário – “escandala”. Durante a conversa diz com orgulho: “não tenho uma ‘escandala’ de ninguém e ninguém tem uma ‘escandala’ de mim”.
O brilho nos olhos acentua-se: “sou feliz, primeiro pelos filhos que criei, são muito meus amigos e fiéis à sua palavra, e depois por aquilo que sou”. Teve oito filhos, é avó de 20 netos, tem 32 bisnetos e já um trineto.
Uma vida com 97 anos tem, obviamente, muito que contar. “Dei uma volta ao mundo e aqui voltei”, revela, acrescentando que veio para Vila Franca, onde esteve durante dez anos. “Depois fui para as minas da Panasqueira, em seguida para a ilha da Madeira, depois estive dez anos em Unhais da Serra”.

“Eu sou
muito politiqueira”

Era tempo de falarmos de política. “Eu sou muito politiqueira, mas pela verdade”, dispara de imediato a D. Teresa.
Mostra que sabe aquilo que não deve faltar a um político. “Estou muito doentinha e velhinha, mas a língua ainda está boa e a memória também ainda não me falhou, graças a Deus”.
Continua a sua caracterização muito própria do mundo da política. “Gostava de uma política muito a sério, mas a política em Portugal, está muito mal dirigida, é muito mal-educada”, sublinha.
Em seguida, volta a reafirmar as qualidades do filho, político em part-time. “As pessoas não fazem como o António Lopes, que não anda aqui para ganhar dinheiro, nem para criar penacho, anda por humanidade, ele não precisava de andar nesta vida”, sustenta.
Considera depois que “as pessoas, para serem humanas, amigas da pobreza, quando vão para a televisão fazer críticas ao Presidente da República ou ao primeiro-ministro, se os ajudassem, dando-lhe sugestões para melhorar o país era bem melhor; mas não”.
Eleva a bengala para demonstrar melhor como se faz má política em Portugal. “É com uma bengala maior do que a minha, a dar porrada para baixo, com razão ou sem ela”. Reconhece que “ninguém é perfeito, todos nós erramos”. Por isso, “seja que presidente for e, do que for, e para o que for, precisa de ajuda, mas as pessoas fazem tudo para arranjar problemas, um bom lugar, uma boa reforma para a velhice e não se importam do trabalhador, que trabalha todo o dia com uma enxada e, ao fim do mês, recebe oitenta contos e eles levam aos quinze mil e doze mil para casa”.
Na sua opinião, os portugueses “estão muito divididos pelos governantes” e aquilo que seria justo era “trabalho igual, salário igual, mas não há isso”.
Continuando a dissertar sobre política, a anciã entende que “não se pode ir para uma junta ou câmara a pensar que vão os outros trabalhar por nós, não pode ser uma brincadeira”.
Quanto à sua terra, acha que Vila Franca “é uma terra morta”. Explicando de imediato: “há muito que fazer, há muita juventude que tem que ir trabalhar para Lisboa ou Porto, ou para o estrangeiro, porque não há um trabalhinho aqui. Só há a serração, não há uma indústria, nada”.

Deixa, a concluir, uma ideia para o programa eleitoral: “há muita casa velha que precisava de ser arranjada, a câmara devia deitar a mão a estas casas e ajudar os donos a comporem-nas. Se eles não podiam, a câmara arranjava e as pessoas depois pagavam uma renda à câmara”.

Artigo do jornalista Paulo Leitão transcrito na íntegra do Diário As Beiras de 27/08/2009

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