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quarta-feira, junho 10, 2009

Brasil também critica Acordo ortográfico

por SÉRGIO BARRETO MOTTA, Rio de JaneiroHoje

Jornalistas, escritores, filósofos e mesmo comediantes brasileiros começam a atacar publicamente um acordo que pode não prevalecer.

São cada vez mais as vozes que se levantam contra o acordo ortográfico. Não só em Portugal, como também noutros países que falam a língua de Camões. No Brasil, por exemplo, os principais opositores do acordo citam o Manifesto em Defesa da Língua Portuguesa, Contra o Acordo Ortográfico, promovido por Vasco Graça Moura, que já conta com mais de 115 mil assinaturas. Há dias, a petição esteve na base de um artigo publicado no jornal O Globo, com o título Portugal Reage.

Quem também ataca o acordo é o jornalista e escritor Carlos Heitor Cony, membro da Academia Brasileira de Letras. "No tempo do Getúlio (Brasil) e de Salazar (Portugal) foram feitos acordos que não prevaleceram, porque, na realidade, quem faz a língua não são as academias, nem os governos. Quem faz a língua é o povo," afirma. "Os portugueses jamais vão deixar de chamar o trem de 'comboio', não adianta. Em Portugal, 'facto' é 'fato', e 'fato' é 'roupa'. Também temos nossas particularidades e jamais vamos chegar a um acordo".

Por outro lado, humoristas como José Simão inspiram-se agora no acordo. "Vão mudar a língua logo agora que o Lula estava aprendendo a falar pelo sistema antigo", referia há dias Simão.

Para Desidério Murcho, da Universidade Federal de Ouro Preto, "as pretensas vantagens do acordo são como as vantagens de ter gnomos de barro no jardim: são decorativos, mas não fazem a poda por nós". Até porque, refere, "não há qualquer impedimento ortográfico à presença dos livros portugueses no Brasil, por exemplo. Na verdade, na biblioteca de filosofia da minha universidade encontram-se imensos livros portugueses e nem os meus colegas nem os meus estudantes se queixam da ortografia. Mas todos se queixam de ser muito difícil comprar livros portugueses".

Por fim, o jornalista José Carlos Tedesco lembra que, "entre os quase 200 milhões de brasileiros, muitos não conseguem sequer cumprir as regras antigas e, portanto, terão grande dificuldade - ou irão mesmo ignorar - as novidades".(In Diario Noticias Lisboa)

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