[google6450332ca0b2b225.html

segunda-feira, maio 24, 2010

As Virtudes de Cada Um

Não desprezo os homens. Se o fizesse, não teria direito algum nem razão alguma para tentar governá-los. Sei que são vãos, ignorantes, ávidos, inquietos, capazes de quase tudo para triunfar, para se fazer valer, mesmo aos seus próprios olhos, ou simplesmente para evitar o sofrimento. Sei muito bem: sou como eles, pelo menos momentaneamente, ou poderia tê-lo sido. Entre outrem e eu, as diferenças que distingo são demasiado insignificantes para que a minha atitude se afaste tanto da fria superioridade do filósofo como da arrogância de César. Os mais opacos dos homens também têm os seus clarões: este assassino toca correctamente flauta; este contramestre que dilacera o dorso dos escravos com chicotadas é talvez um bom filho; este idiota partilharia comigo o seu último bocado de pão. Há poucos a quem não possa ensinar-se convenientemente alguma coisa. O nosso grande erro é querer encontrar em cada um, em especial, as virtudes que ele não tem e desinteressarmo-nos de cultivar as que ele possui.

Marguerite Yourcenar, in 'Memórias de Adriano'

3 comentários:

  1. Este texto devia ser difundido nas escolas.

    ResponderEliminar
  2. José Luís Rodrigues24 de maio de 2010 às 17:32

    Texto extraordinário. Obrigado por partilhá-lo connosco. Não pode ser melhor vindo de uma grande escritora.

    ResponderEliminar
  3. José Ângelo Gonçalves de Paulos25 de maio de 2010 às 16:42

    Outra gigante das "Memórias de Adriano" Faz falta estes génios

    ResponderEliminar