Coisas de outros tempos...
As mãos deslizam debaixo do pisão com mestria e agilidade extraordinária. Neste quadro aparentemente dramático, só o trigo se contorce de dor, esteve de molho desde o dia de ontem, agora colocado na pia de pisar, levará umas pancadas valentes com o pisão, pedra arredondada enfiada na ponta de um pau de madeira (o cabo) onde seguramos para ir a cima e abaixo, e, assim, cai o pisão, ora devagar ora rápido, para que o trigo não salte de dentro da pia para fora ou não fique esmagado. As mãos que trabalham dentro da pia vão ordenando o ritmo. Este trabalho da avó era brilhante e provocava-me o maior dos espantos.
As suas mãos circulando dentro da pia a mexer o trigo de forma ritmada sem medo das pancadas do pisão que cai sobre o trigo, mas que não toca nas mãos.
Este trabalho da pisa do trigo era feito com muita frequência na casa da avó. Um trabalho extraordinário, muito longe dos tempos modernos, que já nos vende nos supermercados o trigo debulhado de forma mecânica. Face a estas facilidades actuais, sempre faz reminiscência aquele trabalho que em pouco tempo nos debulhava em suor e arfava o peito de cansaço para conseguir descascar o trigo. E que sopa maravilhosa vinha dali. As mãos da avó trabalhavam debaixo do pisão a virar e a revirar o trigo para que nenhum manhoso ficasse com a casca ou então, pior ainda, se esmagasse o melhor do trigo no fundo da pia, que era duro e carcomido pelo tempo e pelas pancadas das imensas pisagens que ali já foram feitas.
Este ritual da debulha do trigo era encantador. Normalmente, realizava-se durante as manhãs para ser cozinhado para a hora da ceia - ceia sim - porque nesse tempo jantávamos pão e café pelas quatro horas da tarde. A ceia era tragada pela noite no fim da jornada de trabalho intenso na agricultura, depois da terra revirada pela impiedosa enxada e o gado atestado e aconchegado no palheiro. Esta vida tinha o ritmo do sol e não se dominava com o stress das agendas e com a escravatura dos horários. Tudo tinha um sabor a tempo.
Acabado o momento da pisa do trigo, ficava esse néctar, espalhado a secar ao sol, depois de feita essa secagem as mulheres escolhiam o melhor sítio com a devida direcção do vento para ser joeirado, isto é, as mãos enchiam-se de trigo e eram levantadas ao mais alto possível, as cascas do trigo, eram levadas pela brisa para um canto, o alimento como era mais pesado caía no sítio certo. Já sabemos qual seria o seu destino.
Técnicas rudimentares, mas cheias de sabedoria, em nome da sobrevivência.
As suas mãos circulando dentro da pia a mexer o trigo de forma ritmada sem medo das pancadas do pisão que cai sobre o trigo, mas que não toca nas mãos.
Este trabalho da pisa do trigo era feito com muita frequência na casa da avó. Um trabalho extraordinário, muito longe dos tempos modernos, que já nos vende nos supermercados o trigo debulhado de forma mecânica. Face a estas facilidades actuais, sempre faz reminiscência aquele trabalho que em pouco tempo nos debulhava em suor e arfava o peito de cansaço para conseguir descascar o trigo. E que sopa maravilhosa vinha dali. As mãos da avó trabalhavam debaixo do pisão a virar e a revirar o trigo para que nenhum manhoso ficasse com a casca ou então, pior ainda, se esmagasse o melhor do trigo no fundo da pia, que era duro e carcomido pelo tempo e pelas pancadas das imensas pisagens que ali já foram feitas.
Este ritual da debulha do trigo era encantador. Normalmente, realizava-se durante as manhãs para ser cozinhado para a hora da ceia - ceia sim - porque nesse tempo jantávamos pão e café pelas quatro horas da tarde. A ceia era tragada pela noite no fim da jornada de trabalho intenso na agricultura, depois da terra revirada pela impiedosa enxada e o gado atestado e aconchegado no palheiro. Esta vida tinha o ritmo do sol e não se dominava com o stress das agendas e com a escravatura dos horários. Tudo tinha um sabor a tempo.
Acabado o momento da pisa do trigo, ficava esse néctar, espalhado a secar ao sol, depois de feita essa secagem as mulheres escolhiam o melhor sítio com a devida direcção do vento para ser joeirado, isto é, as mãos enchiam-se de trigo e eram levantadas ao mais alto possível, as cascas do trigo, eram levadas pela brisa para um canto, o alimento como era mais pesado caía no sítio certo. Já sabemos qual seria o seu destino.
Técnicas rudimentares, mas cheias de sabedoria, em nome da sobrevivência.
José Luís Rodrigues
Nota da Redacção - Para quem ficou com água na boca, cá vai a receita...(porque em casa é tudo a olho)
1 dl azeite - 20 gr cebola - 100 gr cenoura - 180 gr abóbora amarela - 180 gr batata doce - 180 gr batata - 100 gr couve repolho - 100 gr couve lombarda - 250 gr trigo pilado - 400 gr perna de porco salgada - feijão de descascar - água e deite o sal só a meia cozedura.
Deite a água, o trigo previamente demolhado (ponha de molho na véspera à noite), as batatas cortadas miúdas, a abóbora, as couves, e os restantes legumes e carne salgada (ou fumada). Por fim o azeite. Depois de levantar fervura, baixe o lume e deixe a sopa cozinhar durante 1 hora e meia. Apague e deixe descansar.
Deite a água, o trigo previamente demolhado (ponha de molho na véspera à noite), as batatas cortadas miúdas, a abóbora, as couves, e os restantes legumes e carne salgada (ou fumada). Por fim o azeite. Depois de levantar fervura, baixe o lume e deixe a sopa cozinhar durante 1 hora e meia. Apague e deixe descansar.
Óptima para fazer nos dias frios e claro, basta a sopa, vai ficar satisfeita/o.
Boa, cara amiga. Faltava isso, a sensibilidade e atenção feminina. Penso logo na receita, fantástico. A humanidade completa-se assim na feminilidade e na masculinidade. É pena que não se perceba isso em tantas outras coisas da vida e do mundo. Muito bem. Bom apetite.
ResponderEliminarO aroma do texto é óptimo. A receita e a fotografia mexeram-me com as iscas...
ResponderEliminarUm abraço,
AVISO:
ResponderEliminarpassei por aqui para avisar que lhe atribui um prémio. Quando tiver um tempinho passe no meu blog para levantá-lo.