Pergunta-me
se ainda és o meu fogo
se acendes ainda
o minuto de cinza
se despertas
a ave magoada
que se queda
na árvore do meu sangue
Pergunta-me
se o vento não traz nada
se o vento tudo arrasta
se na quietude do lago
repousaram a fúria
e o tropel de mil cavalos
Pergunta-me
se te voltei a encontrar
de todas as vezes que me detive
junto das pontes enevoadas
e se eras tu
quem eu via
na infinita dispersão do meu ser
se eras tu
que reunias pedaços do meu poema
reconstruindo
a folha rasgada
na minha mão descrente
Qualquer coisa
pergunta-me qualquer coisa
uma tolice
um mistério indecifrável
simplesmente
para que eu saiba
que queres ainda saber
para que mesmo sem te responder
saibas o que te quero dizer
Mia Couto
Adoro as músicas que a dona T. (é assim que as pessoas se tratam na blogosfera, a primeira letra do nome seguida de um ponto) tem ali na sua caixa de música :)
ResponderEliminarE. ou... S.
A meu ver o «vento» que vem é essa força impetuosa que irrompe do coração de Deus, que do ponto de vista da fé, chamamos Espírito Santo. E no Antigo Testamento já a brisa «pairava sobre as águas». Que belo este poema. Obrigado por partilhá-lo connosco.
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