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quinta-feira, maio 27, 2010

estou a ler (e a gostar. Recomendo)

..."O senhor de Ardres dá de si uma pobre impressão.A sua armadura vetusta provém, sem dúvida, de uma era juvenil mais musculosa,porque agora dança folgadamente em volta do seu corpo esquelético. A malha de ferro está rota e ferrugenta e quase tão suja como as barbas mal aparadas do guerreiro, que revelam crostas secas de alguma matéria indiscernível, grumos de antigas sopas e pedaços de moncos."....."...Faço um esforço para me acalmar e concentro-me no sermão. As palavras de Frei Angélico caem-me nos ouvidos como chumbo derretido. Palavras sedosas, açucaradas, cantadas, que alternam habilmente com palavras ardentes e afiadas, tão retumbantes como as trompetas de Apocalipse. Sim, frei Angélico aprendeu a pregar nestes anos, mas toda a sua sabedoria de pregador não consegue disfarçar a estridência discordante que emerge da sua prédica, o sabor a falsidade, a agudeza ameaçadora. Fala o doutor Angelical  do pecado, da nossa miséria essencial, da nossa incapacidade para compreender os desígnios divinos....E quanto mais fala, mais me horroriza o que diz, mais odeio a dureza e a limitação do seu pensamento, mais me assombra tê-lo admirado um dia e tê-lo achado inteligente."...."-Falei-te alguma vez do elixir ambarino? Provavelmente não...É um dos saberes mais ocultos.Passei toda a tarde de ontem, toda a noite e toda a manhã a fazer o elixir segundo a fórmula antiquissíma que não pode ser escrita e que se deve guardar apenas de memória.E consegui encher todo este frasco.Levanta um pedaço de veludo escuro que está em cima da mesa e deixa a descoberto uma garrafinha bojuda de vidro opalino e translúcido.Dentro do recipiente leitoso, um líquido alaranjado cintila como fogo....-Para que serve esta poção? Nyneve sorri:-É a salvação.É o caminho que conduz a Avalon."

NOTA DA REDACÇÃO - "Num tumultuoso século XII, uma camponesa adolescente, despe um guerreiro morto num campo de batalha e veste as suas roupas para se proteger sob um disfarce viril.Assim começa o vertiginoso e emocionante relato da sua vida,uma peripécia existencial que não é apenas  de Leola mas também nossa, porque este romance de aventuras com ingredientes de fantástico fala-nos, na verdade, do mundo actual e do que nós somos.Uma insólita viagem a uma Idade Média desconhecida,relatada de uma forma tão vivida que quase se consegue sentir na pele, uma fábula que comove pela sua grandeza épica."

in : HISTÓRIA DO REI TRANSPARENTE - Rosa Montero

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