Um sapato gigante e vermelho igual ao de Bento XVI irá desfilar pelas ruas de Lisboa em cima de um automóvel. Uma sátira visual de uma artista portuguesa, a lembrar que "O papa veste Prada".
Catarina Pestana, directora da empresa de comunicação DASEIN, pegou na ideia do filme "O diabo veste Prada" e substituiu o demónio pelo papa, mas manteve a marca de roupa italiana, porque Bento XVI veste-a mesmo, ou pelo menos calça-a.
Este "trocadilho" é a ideia subjacente à peça de design que criou e que desfilará nas ruas de Lisboa por altura da visita do papa: uma réplica "em grandes dimensões do sapato vermelho Prada do pé esquerdo de Bento XVI, sobre uma base preta a aludir aos andores nas procissões".
O papa estará em Lisboa na terça e quarta feira, seguindo depois para Fátima.
Nas faces laterais da estrutura que suporta o sapato poderá ler-se a inscrição "O papa veste Prada", em letras vermelhas e brancas. A mesma frase vai cobrir o automóvel branco que transportará a peça pelas ruas de Lisboa.
Colocado sobre o tejadilho, o sapato terá a largura do automóvel, 70 centímetros de altura e mais de um metro de comprimento.
"É uma iniciativa de liberdade de expressão artística", explica Catarina Pestana.
"A Igreja tem uma riqueza descomunal, há uma enorme diferença ao nível dos estratos sociais, e parece que isso é um valor adquirido. Tanta gente que diz que o papa veste Prada, mas ninguém faz nada. Temos o direito de comunicar o que pensamos", defende.
Contudo, salienta que a peça que criou não é política, nem pretende ser uma "crítica directa", apenas se aproveita da vinda do papa e de um assunto que é público - os acessórios, a roupa e os sapatos que o papa usa - e resume todo esse conteúdo numa única peça com dimensões grandes a ser apresentada ao público.
A artista reconhece que a peça pode ser controversa, mas apesar de sentir algum receio, não será a primeira vez que um trabalho seu é alvo de polémica.
Em Setembro do ano passado, Catarina Pestana viu uma peça de design da sua autoria impedida de participar numa exposição da Bienal ExperimentaDesign por incluir um vibrador.
"Evidentemente que é um apontamento que faz parte da linguagem que utilizo, uma linguagem satírica", afirma, reconhecendo ter-se sentido influenciada por Bordalo Pinheiro.
"Estou a participar na celebração dos 125 anos da Fábrica Bordalo Pinheiro e das inúmeras vezes que fui às Caldas da Rainha e à fabrica senti-me contaminada por uma linguagem bordaliana que apela muito ao sentido crítico contextual de quaisquer assuntos que tenham a ver com a nossa sociedade".
Oportuna é também a prevista inauguração de uma loja Prada em Lisboa, mas Catarina Pestana assegura que esta iniciativa nada tem que ver com a abertura da loja.
A designer tem estado a assegurar-se de que todos os seus procedimentos são legais, quer em termos de desfile pelas ruas, quer em termos de salvaguarda relativamente a eventuais problemas levantados pela marca.
"Não quero que o meu trabalho seja entendido como uma crítica à marca, porque não é", afirmou.
O gigante sapato do papa começará a desfilar por Lisboa na segunda feira e possivelmente nos percursos autorizados durante toda a terça feira.
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